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Bonitinha

Bonitinha. Está simplesinha, mas bonitinha.

Ela me disse isso assim, de repente, no meio da rua. Nunca a havia visto antes. Seus seios, grandes e sem sutiã, me chamaram a atenção. A camiseta estava larga e suja, a calça também. Morava na rua e, justamente quando eu passei, ela disse isso.

Agradeci o elogio e continuei andando, pensando em quantas vezes na vida recebemos um comentário alheio sem ter pedido. Ao mesmo tempo em que meu raciocínio voou entre pensamentos como “sim, eu realmente sou um para-raios de maluco”, “nossa, ganhei uma personal stylist na rua” e “é verdade, é simples mas é bonito”, ouvi o término de sua fala:

Posso falar do seu vestido pois, quando eu era gente, eu desenhava roupas.

Quando eu era gente. Ela disse isso com um certo tom de normalidade, com a mesma intenção que formulou a frase a respeito do meu vestido. A mesma frase que me taxava como simplesinha mas bonitinha lhe tirava o primordial para um ser humano se considerar gente: a identidade. A partir de que momento ela deixou de ser gente? A partir de que momento ela deixou de desenhar vestidos? A partir de que momento ela passou a se vestir com roupas que não lhe cabem? Ou melhor, a partir de que momento aquele ser humano deixou de ser mulher para tornar-se não-gente?

A realidade muita vezes aparece no meio da rua, assim, gratuita. Simples como o meu vestido. Nem sempre tão bonitinha.

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Pelos poderes de Grayskull

“Dirija que nem homem” disse meu pai enquanto me ensinava a trocar as marchas. Longe de ser um comentário machista, ele na verdade queria dizer que eu deveria encarar aquela situação de forma racional e decidida. Utilizar mais o lado objetivo do meu cérebro e menos o lado sensível. Mais razão e menos emoção.

Eu cresci com muitos meninos em volta, principalmente meu irmão e meus primos. No caso do meu irmão, inúmeras foram as vezes que tive que brincar de Barbie no castelo de Grayskull. Não sei se alguém de vocês já tentou fazer isso, mas existem alguns fatores engraçados nessa modalidade. Um deles é que a Barbie, do alto de seu 1,75m de altura, é bem maior que o He Man. Se eles tivessem que formar um casal, ele seria o baixinho cotoquinho da relação. Ou seja, enfiar a Barbie no castelo de Grayskull era uma tarefa árdua, numa casa com teto pequeno e espaço suficiente para alguém do tamanho do He Man.

Para piorar, o castelo tinha uma alavanca que, ao ser puxada, abria um tapete e fazia com que o “inimigo” caísse no andar abaixo. Oras, para a brincadeira acontecer, o embate teria que ser entre eu e meu irmão. Barbie X He Man. E na hora que ele puxava a alavanca, a Barbie ficava presa no vão do tapete, com os braços entalados, sem conseguir sair por baixo ou por cima.

Metáforas a parte, acho que é justamente disso que estamos falando. De uma mulher que ainda não sabe se cabe ou não em todas essas casas. Que ainda se sente desengonçada batendo a cabeça no teto, mas que tem vontade de ficar passeando por lá. Que está entendendo onde e como pisar no castelo de Grayskull sem danificar o esmalte ou ser julgada por se preocupar com isso. Esquizofrênica ou não, hoje posso dizer que dirigir que nem homem pode ser bom. Mas dirigir que nem homem com salto, meia-calça e batom é melhor ainda.

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A midia social pelas Luluzinhas


Luluzinhas no #portocainarede, foto: Cardoso

Convoquei as Luluzinhas, lá no nosso grupo de discussão, para escrever um pouco sobre nosso fazer de todo dia. Às vésperas de um novo LuluzinhaCamp (ops, vários…) e uma blogagem coletiva que será convocada nos encontros, nada como a gente compartilhar um pouco o que pensamos a respeito deste assunto.

Aninha

As mídias sociais vieram para fazer a diferença. Vivemos em um mundo onde jornais, rádios e TV´s são administradas por grupos políticos. A censura velada é a principal marca desses meios de comunicação de massa porque nem tudo é publicado na íntegra e as mídias sociais encontraram como uma das suas funções mostrar os bastidores. Eis uma mídia alternativa.

Elas também apresentaram a interatividade em um mundo onde todo mundo pode falar com todo mundo. Nas mídias sociais há um campo aberto para tudo sem que seja cobrado um real por aquele espaço. É um meio tão novo, mas que ainda não atingiu seu auge, pois novas mídias sociais estão sempre aparecendo e renovando os conceitos de comunicação. A desvantagem ainda é o anonimato que permite alguns crimes.

Ana Cláudia Bessa

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Confissões Absurdas

A Deh Bortoleti levou o assunto pra nossa lista de discussão: Maria Mariana, aquela mesma, a autora de Confissões de Adolescente, disse verdadeiros absurdos sobre a maternidade em entrevista à Revista Época. Vai lá conferir (e prepare-se para ler sandices), depois volta aqui.

Nem tudo na entrevista é absurdo, mas as barbaridades que Maria Mariana fala (e escreve, já que a entrevista foi feita para divulgar Confissões de Mãe, seu novo livro) de modo tão inconsequente como se fossem verdades absolutas chocam quem tem um pingo de juízo – e podem influenciar negativamente muitas mães por aí.

Vamos a uma relação das pérolas.

“Se a mulher parir naturalmente, será uma mãe melhor.”

Como assim, Bial? Quer dizer que a mulher que precisa fazer uma cesariana para proteger sua vida e/ou a do bebê (ou que é brutalmente levada a isso por médicos preguiçosos, como é bem comum) é uma mãe ruim? Ou não tão boa quanto a que pariu naturalmente?

E quanto à mãe adotiva? Pra você, Maria Mariana, ela deixa de ser mãe só porque não pariu aquela criança?

Que escala é essa que você usa para definir que mães são melhores que outras?

“Amamentar não é um detalhe, é para a mãe que merece.”

Ah, é? E a minha mãe, que fez tudo o que pôde, mas, simplesmente, não teve leite? Será que ela não mereceu? Ora, poupe-me. É tão fácil medir o mundo pela sua própria régua e esquecer que as vivências variam de pessoa pra pessoa.

“Há mulheres que passam nove meses no shopping, comprando roupinhas, aí depois marcam a cesárea e pronto. Acabou o processo. Aí sabe o que acontece? Elas têm depressão pós-parto.”

Possivelmente, o absurdo-mor. Depressão, Maria Mariana, é um quadro clínico. É uma doença, um desequilíbrio químico. Ninguém tem depressão pós-parto por fazer enxoval ou marcar cesárea. Por outro lado, há mulheres que têm parto normal e sofrem com a doença. Se você não teve depressão pós-parto, sorte a sua.

“Deus preparou o homem para estar com o leme na mão.”

É mesmo? Diga isso para as milhares de mães solteiras espalhadas pelo Brasil. Ou para as milhões mundo afora.

“Apanhar cueca suja que o marido deixa no chão é um aprendizado de paciência e dedicação.”

Esse foi o melhor exemplo que você pode dar sobre o que é casamento? A minha visão de casamento tem a ver com parceria, não com com a mera (e desigual) realização de tarefas domésticas.

Maria Mariana, suas declarações cairiam bem na boca de uma adolescente mimada que não amadureceu o suficiente para perceber que cada pessoa tem suas próprias experiências e que o mundo nem sempre funciona segundo seus valores ou sua realidade.

Espero que seu livro seja um fracasso de vendas e que não incuta idéias erradas e preconceitusas em atuais e futuras mães.

O assunto tem reverberado pela blogosfera. Veja outros textos (mais completos) sobre o assunto:

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Você é feminista?

O que feminismo significa pra você?

A palavra “feminismo” ganhou tantas conotações que fica difícil responder a essa pergunta com um simples “sim” ou “não”.

Sou feminista quando isso significa garantir às mulheres o direito de competir no mercado de trabalho em condições de igualdade com os homens. Ainda hoje, mulheres com as mesmas qualificações ganham, em média, 20% menos que os homens, no desempenho de funções idênticas. Isso é justo? Claro que não.

Também sou feminista quando o assunto é dividir as tarefas de casa e a criação dos filhos. A responsabilidade deve ser do casal, especialmente se ambos trabalham fora. O homem chega cansado em casa? Novidade: a mulher também! E ainda tem que ouvir “Querida, estou com fome, cadê meu jantar?” ou “Amor, o Júnior precisa de ajuda no dever de casa, vai lá”. Ora, pílulas! Largue o controle remoto, levante esse traseiro gordo do sofá e vá ajudar sua parceira!

Odeio quando algum engraçadinho atribui o mal-humor de uma mulher “àqueles dias”. Uma ova! Mulheres têm razões tão boas quanto os homens para ficarem irritadas e não precisam da condescendência masculina. A biologia não é culpada pelos males do mundo e, certamente, não é culpada pelos aborrecimentos cotidianos – talvez a culpa seja sua, querido.

Mas-porém-contudo-todavia, estou a léguas de distância de pregar “a igualdade dos sexos”. Não, não somos iguais aos homens! Temos nossas necessidades, fraquezas, preferências – e eles têm as deles.

Não quero ter a obrigação de gostar de futebol, saber tudo sobre carros ou acompanhar o cara na bebida – para isso, ele tem seus amigos, Da mesma forma, não exijo que o sujeito saiba tudo sobre as últimas tendências da moda, goste de passear no shopping ou repare na cor do meu esmalte (mas, se eu cortar quatro palmos de cabelo e ele não notar, reclamo mesmo).

Gosto de ouvir um elogio ao meu vestido, ter a porta do carro aberta para que eu entre e a cadeira do restaurante puxada. Aprecio a gentileza e recuso-me a acreditar que cavalheirismo é coisa do tempo dos nossos avós. Detesto ser protegida como se fosse um bibelô de porcelana, mas vou achar muito estranho se o cara me tratar da mesma forma que trata os amigos do futebol.

Difícil encontrar o meio termo? Na verdade, não. Conheço homens que acertam em cheio. Não precisa ser PhD (mas não tenho a receita do que é necessário – afinal, isso é com eles).

Todo esse papo começou porque me lembrei do site The Feminist eZine. O site informa que contém 1001 links feministas e outros temas interessantes. Entre os tópicos, há títulos instigantes como ciberfeminismo, feminismo doméstico e ecofeminismo. Se você entende a língua do Bardo, vale a pena marcar o site entre os Favoritos do seu navegador ler um artigo ou outro de vez em quando.

E aí? Será que sou feminista? E você, é?

Imagem: quinn.anya.