Conheci Lena numa feira de rua, em Amsterdam. Ela, numa cadeira de rodas, fumando, acompanhada de uma mulher. Pedimos para dividir a mesa enquanto saboreávamos um croquete holandês. Aliás, quem foi que inventou essa história de comer croquete com pão? É estranho, o croquete não cabe dentro do pão, aí você praticamente não consegue comer essa espécie de cachorro-quente enganado. Mas eu não vim aqui pra falar disso. Eu vim pra falar da Lena.
Nasceu em Amsterdam e já não escuta muito. Mesmo assim, esforçou-se para se comunicar conosco em uma língua que não era nata nem dela e nem nossa. Tropeçando em uma mistura de diálogo em inglês com sorrisos, tivemos momentos super graciosos. Disse que amava a cidade e que lá as coisas faziam sentido. Não disse exatamente com palavras, mas com seus olhos. Ficou admirada quando contamos que éramos do Brasil, mas que estávamos morando em Estocolmo. Julgou nossa escolha como qualquer outro brasileiro julga: vocês estão loucos? Nessa hora, deu pra perceber que Amsterdam, mesmo sendo um perfeito cartão postal europeu, tem uma mentalidade bem pouco européia.
Quando levantamos da mesa para ir embora, ela pegou na minha mão. Nessa hora percebi como minha mão estava gelada e a dela, quente. Comentei:
– wow, i’m cold
– i’m Lena, nice to meet you*
O prazer foi meu, Lena. E conhecer você só reforça a minha vontade de ser uma velhinha de bem com a vida, dessas que pintam o cabelo de roxo.
*para quem não fala inglês, explico: eu disse “i’m cold” que significa “estou com frio”. Só que essa é a mesma construção gramatical para dizer seu nome, ex: “sou a Marina”. Aí, ao ouvir minha fala, ela respondeu com seu próprio nome, dando a entender que eu havia dito o meu antes. Ou seja, “me chamo Cold” 😉