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Como dona Alba descobriu e venceu o câncer de mama

dona Alba e Adriana, Férias 2011
Dona Alba e Adriana, nas férias de 2011

Em outubro de 1999 recebemos aquela que parecia ser a pior notícia de nossas vidas, minha mãe, então com 64 anos foi diagnosticada com carcinoma mamário, o temível câncer de mama. Naquela época não tínhamos muitas informações sobre a doença e ficamos muito preocupados com o desenvolvimento de tudo aquilo.

Minha mãe fazia exames regulares, havia feito uma cirurgia de redução das mamas dois anos antes e não sentia nada que a fizesse sequer imaginar o que estava por vir.

Mas a médica havia sido categórica, a cirurgia se fazia necessária e urgente. Foi marcada então para o dia 25 de outubro daquele ano e minha mãe sempre serena pareceu desabar.

Ela sempre foi muito fechada e nunca conversávamos muito sobre o assunto, mas eu sabia que aquela notícia a havia tirado o chão.
No dia marcado estávamos lá, eu e ela. Minha irmã com duas filhas pequenas em casa, aguardava ansiosa por notícias.

A cirurgia transcorreu super bem, mas a suspeita se confirmou o processo cirúrgico adotado foi a quadrantectomia e minha mãe já saiu do hospital com as sessões de radioterapia agendadas. Foram muitas. E dolorosas. As queimaduras na pele eram visíveis e a cicatrização muito demorada.

Após todas essas sessões, novos exames e um novo diagnóstico, seria necessário continuar o tratamento com quimioterapia. Esta foi a pior notícia após a cirurgia. A preocupação da vaidosa Dona Alba era com os cabelos e o que a quimio poderia fazer com eles. Mas não havia alternativa e lá fomos nós enfrentar sessões intermináveis de um tratamento altamente agressivo.

Foi uma fase muito ruim, pra minha mãe que sofria horrores após cada sessão e pra mim, que sofria junto com ela, pois não havia nada que eu pudesse fazer a não ser emprestar minha presença.

Após tudo isso a boa notícia, não havia mais sinais das células cancerígenas, mas os exames seriam feitos a cada mês, três meses, seis meses e por fim anualmente. Durante 5 anos o período é chamado de remissão, onde o paciente não apresenta nenhuma célula cancerígena, mas ainda não é considerado curado.

Hoje, 12 anos após o diagnóstico e cirurgia minha mãe pode ser considerada curada pela medicina, mas eu a considero uma vencedora! Ela lutou a cada dia para que o diagnóstico negativo não fosse impedimento para que ela continuasse vivendo. Ela é meu maior exemplo.

Porque tudo isso aconteceu eu faço mamografias regulares desde os 30 anos. E todo ano minha mãe me liga pra me lembrar do meu compromisso com o exame.

Hoje ela está com 76 anos e super saudável. Viaja todos os anos e aproveita a vida da melhor maneira possível, mas nunca esquece de tudo que passou e tem certeza que se não fosse o diagnóstico precoce, a história seria outra.

P.S.: e após tantas sessões de quimio os cabelos da minha mãe não cairam… no final eu não sei se ela estava mais feliz pelo fim da doença ou por não ter ficado careca… rsrsrs

O diagnóstico de câncer, embora assustador, é básico para o processo de conhecimento da doença e do tratamento que o paciente necessita para curar-se. E o processo ensina muita gente a aceitar o problema e lutar pela vida. (http://www.vidaintegral.com.br/noticias.php?noticiaid=316)

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Dicas Opinião

Histórias Íntimas

No Brasil, durante o fim do século XIX, a parte do corpo da mulher que era o maior fetiche eram os pés. Como eles eram as únicas partes que ficavam descobertas, os homens enlouqueciam olhando tamanhos, dedinhos e afins. Ninguém prestava muita atenção nos seios femininos. Há toda uma construção social sobre nossos desejos, sobre o que achamos bonito ou excitante. O erotismo muda através dos tempos, o que infelizmente permanece é o controle do prazer sexual. A idéia de que sexo é algo pecaminoso e que a virgindade feminina é um trófeu também são construções do nosso imaginário erótico social.

E é sempre sobre a mulher que o controle é exercido com maior rigidez. Até hoje há mulheres que são criadas para casar, terem relações sexuais apenas com um homem durante toda a vida e terem muitos filhos. Prazer no sexo? Nem pensar. O homem pode ter suas fantasias proibidas com mulheres fora de casa, enquanto o valor da mulher é medido pelo seu recato. Não parece ser à toa que vemos tantas mulheres saindo ás ruas pelo mundo em Slutwalks, lutando pelo direito de serem donas de seus corpos.

No livro Histórias Íntimas, a historiadora e escritora Mary Del Priore, apresenta um interessante panorama da construção do erotismo brasileiro desde o período do Brasil Colônia, até os dias atuais em que o divórcio é tão comum e o sexo alcança nosso olhar em todos os lugares. A leitura é muito prazerosa, para fazermos um trocadilho. A escrita é clara e pontua algumas reflexões. A única coisa que realmente senti falta foi ver mais sobre o impacto da pornografia em nossa sexualidade. Em uma entrevista Mary Del Priore fala um pouco sobre isso:

Os seios ganharam importância quando a lingerie começou a se difundir, no século 20. Antes, a roupa íntima da mulher era uma sobreposição de saias compridas, repletas de botões e laços. Despir-se era complexo. A lingerie levou o olhar do homem para uma parte do corpo feminino até então vista como meramente funcional, chamadas de “aparelhos de lactação”. Mas a grande moda dos seios veio mesmo na década de 1950, com o cinema americano, a Playboy e a Marilyn Monroe.

Fica a dica de um bom livro para curtir nas férias e pensar sobre como a economia, a industrialização e os hábitos de higiene afetaram a maneira como encaramos o sexo e o prazer. Há vários momentos do livro em que rimos para não chorar de tantas bobagens já impostas as pessoas quando se fala de sexo. Deixo um trecho como exemplo:

Assim, o homem era responsável por uma tripla função: combinar a reserva espermática, a fecundação vigorosa e evitar a volúpia da parceira. O risco? Sem esse coquetel, o coito podia detonar “furores uterinos” — forças adormecidas nas mulheres normais, mas que eram reveladas por ninfômanas e histéticas.

Nos anos 1840-1850, dois médicos franceses, Pouchet e Négrier, descobrem os mecanismos da ovulação. A mulher deixou de ser considerada uma simples portadora de ovos para fazer parte da Criação. Mas ela pagou um alto preço por isso. A espontaneidade da ovulação tornava inútil o orgasmo. Só a ejaculação masculina era indispensável. Por décadas, os homens puderam esquecer as reações de suas parceiras. A necessidade de prazer lhes era oficialmente negada. Um ou outro doutor mais sensível invocava a possibilidade de as esposas gozarem. Mas apenas como garantia contra a infidelidade. Era o medo do adultério que permitia um número maior de carícias.

Histórias Íntimas de Mary Del Priore, páginas 80-81.