As coleções de inverno estão nas araras e em várias marcas é possível ver peles de animais verdadeiras. A pergunta é: vale tudo na moda? Será que já não discutimos o suficiente a crueldade que é matar animais para fazer casacos de pele? A resposta é não. Atualmente a questão da pele na indústria da moda ainda não é totalmente questionada, mesmo com os inúmeros protestos de organizações de defesa dos animais. Porém, não discutimos ainda com clareza a questão dos direitos dos animais. Não só na moda, mas também em nossos hábitos.
Aviso que esta não é uma questão de dizer que matar vaca para o bife pode e matar raposa para casaco não. É preciso refletir sobre inúmeras questões. Somos, em sua grande maioria, criados como onívoros, estamos acostumados a comer carne desde a pré-história. É um hábito e dependendo do país em que você vive pode-se comer cachorro ou não, por exemplo. Ou pode-se ter uma ótima culinária vegetariana como é o caso da Índia. No caso específico do Brasil, a pecuária é um dos grandes meios de produção da economia. Somos um povo acostumado a comer carne de vaca, frango, porco, peixe entre outros animais. Porém, não somos um país que culturalmente mata raposas e coelhos para fazer casacos de pele. É preciso refletir sobre nossos hábitos alimentares e sobre a cadeia de produção de alimentos da qual fazem parte. Métodos de abate em grande escala na maioria das vezes não respeitam nem os animais e nem os trabalhadores envolvidos. Vemos o reflexo disso também na qualidade da carne que consumimos. Portanto, a carne que comemos e o casaco de luxo não fazem parte da mesma cadeia de produção, mas estão interligados dentro da nossa relação com animais.
Quando falamos de direitos dos animais é preciso falar do uso de peles na moda, mas também de tráfico de animais silvestres, das penas naturais usadas em alegorias durante o Carnaval, dos animais abandonados por seus donos, dos zoológicos, da caça indiscriminada, dos maus tratos, das condições de abate em frigoríficos e dos nossos hábitos de consumo de carne e derivados animais. O que podemos fazer para mudar essa situação? Qual nosso nível de respeito pelos animais? Matar animais é justificável dependendo de como os usaremos? Precisamos matar animais para vivermos? É importante levantarmos todas essas questões. Porém, focar em uma delas em determinado momento não significa fechar os olhos para outras. E a grande questão quando falamos de moda é: há substitutos. Há materiais de qualidade que podem substituir facilmente a pele verdadeira de animais em vestimentas. Então, quanto vale um look? Quanto vale uma tendência?
É importante refletir individualmente sobre nossas ações. Podemos virar vegetarianos, podemos virar veganos ou podemos diminuir a quantidade de carne que consumimos. Podemos fazer boicotes a empresas que não realizam abate humanizado e empresas que vendem pele e couro de animais verdadeiros. Podemos denunciar o tráfico de animais silvestres e não aprisioná-los em cativeiro. Ações individuais e reflexão constante sobre nossos hábitos de consumo são fundamentais para mudar nossas relações com o mundo. Muitas vezes não são suficientes para modificar os meios de produção, mas ao vermos que uma empresa decide tirar das vitrines peças de sua coleção que exalta peles de animais em decorrência dos protestos, é possível ver uma pequena vitória dentro da ampla questão dos direitos dos animais. Ações individuais são nossa responsabilidade, além de serem catalisadores de ações coletivas. Quando o presidente de uma grande empresa de moda afirma que não é responsável pelo debate de uma causa tão ampla e controversa, justificando que pele de animal é tendência, quem assume a responsabilidade? Cada um de nós deve assumí-la.
Este post faz parte de uma Blogagem Coletiva proposta pela Renata Checha. Outros posts participantes:
A terceira lei de Newton e o caso arezzo
A Vênus das Peles – Leopold Von Sacher Masoch
Arezzo e algumas outras ignorâncias
Crueldade animal NÂO está na moda