Além do cabelo armado, o delineador estilo gatinho era uma das marcas de Amy Winehouse. O estilo que trouxe junto com sua música abriu espaço para novas cantoras, especialmente britânicas, que tem vozes poderosas e estilo próprio como Adele e Anna Calvi. No mundo das cantoras britânicas, Joss Stone já tinha iniciado uma viagem ao gingado do passado com seu flower power, mas foi Amy Winehouse quem nos trouxe a alma e as letras coração-partido-rímel-borrado. Aquelas letras que ouvimos voltando do trabalho, quando não há mais nada para se pensar, a não ser repensar o fim de mais um namoro e o quanto fazem sentido as palavras de “Love is a losing game” ou “Tears dry on their own”.
A Flávia Durante, que discotecou nos shows que Amy fez no Brasil, fez um texto com um olhar bem sincero (e contou quais seus 5 momentos favoritos da carreira de Amy):
O clima era o mais tranquilo possível. Vi o show de Amy ao lado dos músicos da Janelle Monáe e de Mayer Hawthorne, todos encantados por estarem ali. Se não fosse Amy e o resgate do soul old school originado por ela e Mark Ronson dificilmente eles teriam surgido no mapa musical (nem Adele, nem Duffy etc etc). Hawthorne chegou a tuitar: “Back to Black’ é uma das melhores músicas de nossa geração”. Quem ousa discordar?
Amy vivia suas contradições por bares, palcos e capas de revista. E nós víamos uma mulher que com muita propriedade dizia não, não e não. Uma mulher que não fazia nenhum esforço para ser uma boa moça. E, ao mesmo tempo, uma mulher que se desmanchava por causa de um amor. Com seu penteado imponente e seu olho sempre com delineador marcado, Amy mostrou que toda mulher pode ser quem quiser. Pode se criar e se montar para sair como uma superstar. Mas essa mulher não quer ser uma super mulher, não quer ser aquela que faz pose e passa as noites sendo blasé, ela quer viver intensamente, porque algumas pessoas conseguem passar pela vida sem sentir, outras não.
A Tina Lopes contou uma historinha super fofa da Amy:
Sei da Amy uma historinha tão linda que já contei no twitter. Um amigo estava em Londres, sem grana, as coisas não estavam andando conforme seus planos. Foi com conhecidos a um pub e, chateado, baixou a cabeça na mesa e chorou. Sentiu uma mão suave no ombro e ouviu: “pare de chorar, não fique triste, vou cantar pra você”. Era Amy Winehouse antes da fama, e cantou olhando pra ele.
Suas letras contavam sua vida, seus clipes exalavam seu estilo e rebeldia. Amy sempre será única no mundo da música. Era triste ver Amy tão exposta na mídia. Estampando capas com seu sorriso banguelo. Sabíamos que ali não existia apenas um vício, havia também muita depressão e um sentimento de não-pertencimento ao mundo da maneira que ele é. Uma alma constantemente desassossegada. O sentimento que fica ao pensar na morte de Amy é que perdemos uma grandeza na música, na maneira de cantar os sentimentos e de ouvir o coração.
A Francine destrincha um pouco porque amávamos tanto essa mulher de voz poderosa e aparência frágil:
Ontem ao ler as primeiras notícias no twitter a ficha demorou a cair. Podia ser mentira. Quando confirmaram, eu comecei a chorar. Ela não era minha cantora favorita. Mas como muito gente, eu era fascinada por ela e torcia pra que ela continuasse viva. E como muitos também, me identificava com a fragilidade emocional dela. Porque eu já senti várias vezes que eu não ia dar conta da vida. E tive medo disso. Chamem de empatia, projeção, whatever, mas poucos artistas conseguiram isso, essa aproximação tão imediata com o público.
Não lembro qual foi a primeira música de Amy que me pegou. Mas esses dias lembrei muito dos versos de “He can only hold her” (que ela deliciosamente mesclava com Doo Wop da Lauryn Hill), porque o legado de Amy Winehouse está aí vivo cada vez que passamos um delineador e chegamos com ele todo borrado.
How can he have her heart
When it got stole
Though he tries to pacify her
Whats inside her never dies