Hoje tem guest post de luxo da Talita Ribeiro. Peguem seus lenços porque o texto é emocionante!
A primeira vez que ouvi falar sobre câncer, eu tinha 5 anos, não fazia ideia do que era a doença, só sabia que ela levaria um dos seios da minha avó e, o mais assustador, a tiraria da nossa convivência diária por longos dias. Não, eu não pensava na possibilidade dela morrer. Até porque era a minha avó que passava boa parte do tempo comigo e com meu primo-irmão e ela não poderia nos deixar sozinhos. Ela nunca nos deixaria sozinhos.
É isso que uma garota de 5 anos repete mentalmente quando alguém conta que sua avó tem uma doença séria. Tão séria, que faz sua mãe desistir de assumir um cargo público, para poder ficar com você. Tão séria, que os netos não podem visita-la no hospital, só mandar desenhos para alegra-la. Mas quem nos alegraria? Quem nos contaria as histórias do nordeste, do rio São Francisco? Quem faria bolinho de chuva, macarronada e o famoso arroz a grega no natal?
Eu tenho poucas lembranças desse período, mas lembro da alegria que a volta dela para casa despertou – sim, era um câncer benigno -, e do choque que foi vê-la se trocar e constatar que, no lugar do seio retirado, ela colocava uma meia no sutiã. O que ficou para sempre, porém, foi uma promessa, dessas infantis, de que “eu nunca passaria por aquilo”, muito menos quando tivesse filhos ou netas, com seus pequenos e temerosos corações.
Bobagem, eu sei, mas isso me marcou de uma forma tão profunda, que fiquei conhecida na família como a menina/garota/mulher que dá prejuízo aos planos de saúde. Sim, eu vou com frequência a médicos. Todos os anos faço um check-up ginecológico completo, não deixo nenhuma dor mais forte, seja onde for, passar impunemente e quero sempre o melhor do melhor especialista de tudo. Pesquiso o currículo dos doutores, os alimentos bons para saúde, os treinos que me deixam mais forte… Afinal, eu prometi me manter saudável. E, depois daquilo, proibi minha avó de morrer antes de conhecer os meus filhos.
Hoje, a dona Raimunda, que me ensinou a gostar de limonada e carne moída crua temperada, está chegando aos 90 anos, viúva, com uma memória bem seletiva e um corpo miúdo demais para tanta coragem. “Pequena”, como era chamada pelo meu avô na época do namoro, vendeu o anel de noivado para comprar um par de brincos quando veio para São Paulo, deu um perdido no noivo nordestino e se casou com mais de 30 anos, “só porque queria ter filho”. Sorte do meu pai e tios. Sorte minha e do meu primo-irmão, que tivemos o prazer de viver tão perto dela durante a infância.
Nesse outubro rosa, espero que outras meninas não tenham a infância marcada pelo câncer de suas avós, mãe, tias, madrinha… Mas que se a doença aparecer, elas tenham sempre a esperança da cura, através de um diagnóstico rápido, um tratamento eficiente e um acompanhamento médico de qualidade. Nós e nossas amadas merecemos isso.