Johanna Blakley é vice-diretora do Norman Lear Center, um instituto de pesquisa que explora a convergência entre comércio, entretenimento e sociedade. Atualmente, Blakley tem como foco de suas pesquisas o impacto da mídia e do entretenimento em nosso mundo. Há duas palestras dela no TED (legendadas em PT-BR) que falam de coisas bem bacanas para quem está interligado nas novas possibilidades da rede.
A mídia social e o fim do gênero
Quando falamos de mídia de massa e entretenimento, é possível ver divisões no mercado baseadas em idéias estereotipadas e limitadas. Um exemplo, homens gostam de filmes de ação, mulheres gostam de romance. Padrões bobos e algumas vezes degradantes que são reforçados todos os dias. A mídia e a publicidade mostram um espelho distorcido de nossas vidas. Não há pluralidade, pois métodos rígidos de segmentação ainda são utilizados para mensurar consumidores e restringí-los em rótulos. O que vemos atualmente, é que aplicações de mídias sociais podem nos libertar destes conceitos limitados. Saber o que entretem as pessoas, como se divertem ou que fazem em seu tempo livre é importante para compreender o mundo atualmente.
Nas redes sociais as pessoas não se conectam de acordo com seus perfis demográficos, mas por meio de seus gostos e interesses. Para a maioria das pessoas interessa saber mais qual seu seriado favorito, do que quantos anos você tem. Analisar a quantidade de cliques em um site não traz informações como idade, gênero ou renda. Porém, analisar interações online produz informação sobre o que você faz online, do que gosta, o que lhe interessa. Na internet, pessoas se juntam ao redor de assuntos que elas gostam, seja uma banda, um seriado ou um time de futebol. E o que vemos é que valores e interesses são agregadores muito mais poderosos entre seres humanos do que categorias demográficas. As mulheres são maioria nas redes sociais. Além de superarem os homens, gastam muito mais tempo nesses sites. O resultado disso será que as empresas de mídia contratarão cada vez mais mulheres, pois perceberão que isso é importante para seu negócio. E essas mulheres serão responsáveis por acabar com categorias clichês, especialmente clichês femininos, pois elas sabem o quanto isso é limitador.
Lições de uma cultura livre da moda
Na indústria da moda há pouca proteção de propriedade intelectual. Há proteção de marca registrada, mas não há proteção de direito autoral e nem proteção de patente. Pode-se copiar qualquer roupa e vender como seu próprio desenho. A única coisa que não podem copiar é a etiqueta da marca, por isso vemos tantas logos espalhadas ou chamativas pelos produtos. A razão para não haver direito autoral na moda, nos Estados Unidos, é que a justiça decidiu que vestuário é muito utilitário para se qualificar na proteção de direito autoral. Não queriam que poucos designers fossem donos de partes fundamentais de nossas roupas, senão todos teriam que licenciar aquele punho ou aquela manga, porque ela pertence a uma pessoa.
A lógica do direito autoral presume que sem o advento da propriedade, não há incentivos para inovar. Porém, justamente por não haver direitos autorais na indústria da moda, os designers elevaram o desenho utilitário, criaram novas formas sobre o padrão. E transformaram roupas em arte, gerando sucesso de crítica e lucro. Há um processo criativo amplo e aberto. Escultores, fotógrafos, cineastas ou músicos ficam limitados a determinadas escolhas, enquanto designers de moda podem ter acesso a todas as peças já criadas, podem pegar qualquer elemento de qualquer vestuário e incorporá-lo ao seu trabalho. A consequência de uma cultura onde se copia livremente é o estabelecimento de tendências. Além do que, a inspiração vem das ruas, do que as pessoas usam, como mostram os diversos blogs de fashion street. Isso faz com que a indústria seja alimentada de cima para baixo e de baixo para cima.
Mulheres e o novo momento
Esses foram os principais apontamentos que fiz vendo as duas palestras. Acredito que o advento da tecnologia digital veio revolucionar a maneira como definimos direito autoral. Enquanto as redes sociais são fundamentais na divulgação de informações e na interação entre pessoas. Concordando ou não com as idéias de Johanna Blakley, suas falas me fizeram pensar bastante. Interessante notar que as mulheres são as principais consumidoras das redes sociais e da moda. Acredito que dificilmente estamos vivendo um Matriarcado.com, mas é importante perceber como estamos na crista da onda, como o poder provem da igualdade. Como mulheres estão absorvendo as novas formas de comunicação e consumindo produtos gerados numa cultura livre e criativa. Acredito que o diferencial no momento, que contribui para o crescimento das mulheres nesses campos, é que cada dia mais vivemos num mundo de idéias e não mais num mundo de objetos fixos e rígidos.
6 respostas em “Mídia Social, Gênero e Cultura Livre.”
Bia, eu tinha deixado uma janela aberta com a palestra, mas só vi dias depois. Gostei muito e também da sua reflexão sobre o assunto. Acho que rende ainda muitas conversas.
beijos
Valeu Babi!
[…] [+] No LuluzinhaCamp: Mídia Social, Gênero e Cultura Livre […]
É, queridas Lulus, a internet quebra as barreiras de gênero, cultura e também de idade. Eu sou prova da iclusão digital na terceira idade. Adoro escrever no meu blog e Twittar, querem ver? http://www.consul.com.br/Consulevoce/BlogdaConsul
Um beijinho a todas (ou todos?) hihihi
@vovoconectada
[…] artística. Já falei um pouco sobre como a moda tem tudo a ver com cultura livre no post Mídia Social, Gênero e Cultura Livre. Hoje quero falar de dois blogs específicos que mostram que moda é para todas, especialmente para […]
[…] internet oferece a possibilidade de se abolir ou pelo menos diminuir o impacto dos estereótipos de gênero. As comunidades virtuais crescem não a redor de limites demográficos de idade, sexo e local, mas […]