Fui convidada pela querida Lucia Freitas para contar aqui, a minha história contra o câncer.
Há 3 anos eu estava lendo uma Superinteressante, cuja capa ilustrava as novas descobertas da medicina contra o câncer e recomendava o auto-exame… levei minha mão direita ao meu peito esquerdo e, ao primeiro toque, achei algo do tamanho de uma azeitona dentro dele. Fiquei preocupada, era uma sexta-feira à noite, não dava pra fazer nada, liguei pra uma amiga, enfermeira do pronto socorro do Beneficência Portuguesa, e ela tentou me tranquilizar, e me convenceu a esperar até segunda e ir direto a um mastologista.
Segunda de manhã, consegui um encaixe com um dos melhores do Brasil, Dr Claudio Kemp, que eu já conhecia e era um médico muito querido. Na hora em que ele viu o caroço no ultrassom, já disse: -Ih acho que é…vamos tirar? e eu falei: -Tira já! Sem nem saber direito as implicações, só queria tirar aquilo do meu corpo.
No mesmo momento em que ele fazia uma punção (enfiou uma agulha pra colher um pouco do líquido e mandar analisar) ele marcava a minha cirurgia. O resultado da punção deu que não somente era câncer, mas um dos tipos mais agressivos do universo…a tristeza foi imensa, quase morri de medo de morrer…pensei na minha filha de 3 anos, que iria crescer órfã e se lembrar vagamente de mim.
Tirei o carocinho assassino e fiquei feliz, fiz uma quadrantectomia (tira-se apenas 1/4 da mama, que era a parte afetada) e o pior, tira-se a axila, para verificar a quantidade de linfonodos atingidos,e que no meu caso estavam absurdamente comprometidos com a doença.
Fui encaminhada à procurar um oncologista, para fazer quimio e rádio, e como se não bastasse o meu destino, caí no consultório de um imbecil…onde cheguei toda insegura e cheia de dúvidas:
-Dr , o meu cabelo vai cair?
E ele:
– Vai sim, todinho, mas, porque vc está chorando? Teu cabelo nem é bonito.
E eu horrorizada, pois meu cabelo, modéstia à parte era lindo…percebi que ele era cheio de gracinhas…
Arrisquei mais uma pergunta, pois sabia que a quimio, em muitos casos, deixa a mulher infértil e mesmo se não deixar, deve-se esperar 5 anos prá tentar engravidar de novo:
– Vou poder ter mais filhos daqui 5 anos?
E ele, como que indignado com minha pergunta:
– O que vc pensa? Que câncer faz aniversário? Quatro anos e meio não pode e cinco anos e meio pode? NÃO VAI TER FILHO NUNCA MAIS! ALIÁS, PRÁ QUE VC QUER MAIS FILHO? FILHO ENCHE O SACO, EU TENHO 3 VAGABUNDOS EM CASA, QUER UM PRÁ VC? PODE LEVAR.
Pra não sair chutando tudo, e estrangulando o idiota, peguei os pedidos de exames pré-quimio, e fui procurar outro médico.
Achei o melhor oncologista do mundo, Dr Marcelo Aisen, meu salvador e protetor, meu amigo, tão querido que me curou com sua fofice extrema – e quimio é claro…
No início, eu relutei em fazer quimio (com medo e vergonha de ficar careca) e uma amiga minha, a Anete, me convenceu:
-Cabelo cresce!
– Mas eu não quero ficar careca 🙁
– Olha, eu conheço uma mulher que faz peruca com o próprio cabelo, mas precisa do cabelo de duas pessoas prá ficar uma peruca legal…então eu vou raspar o meu careca e vou te dar 🙂
– Tá maluca? Não vai não!
– Vou sim, cabelo cresce!
E no dia seguinte, veio na minha casa careca, toda feliz, com os cabelos embrulhados prá presente.
Quando comecei a quimio, percebi que era tão difícil passar por aquilo, que a queda dos cabelos já não importava mais, nem a falta de um pedaço do seio…Fizemos a peruca, quase não usei, o propósito da minha amiga era me mostrar que cabelo cresce e que ela estava ao meu lado. Usei lencinhos ou ficava careca mesmo, nem me incomodava mais.
Minha filha dizia, na inocência de seus 3 aninhos: – Mamãe, vc tá linda careca 🙂
O maridão maravilhoso, sempre me dando forças e fazendo de tudo prá me manter confortável e amada.
Foi muito bom ter o apoio deles.
A quimio é difícil, mas PASSA! O cabelo, realmente cresce! E vc percebe que não é tão importante assim.
O seio fica meio estranho, mas prefiro ele assim e estar viva.
Garanto à todos que o pior é a retirada da axila, que detona o braço pro resto da vida, não se pode mais carregar peso, nem fazer esforço, nem machucar, nem nada…só exercícios leves e fisioterapia prá tentar movê-lo normalmente sem dor, dói até prá dirigir. Por conta disso, podemos comprar carro zero hidramático com desconto (alguns acham que é sorte, eu preferia ter o braço são e andar a pé…).
Existe uma estatística curiosa: 80% dos maridos, cuja mulher tem câncer, abandonam a mulher (só 20% permanecem casados) e 100% das mulheres, cujos maridos têm câncer, continuam com os maridos.
E pouca gente sabe que o câncer de mama também pode dar em homens.
Hoje, faço exames periódicos e me sinto cada vez melhor, a filha já tem 6 anos, o marido é o melhor ser humano que já conheci, algumas amizades sumiram, outras se fortaleceram, alguns te olham com pena, outros com felicidade, e receber um sorriso das pessoas, prá mim, é o que existe de mais lindo…
e hoje estou grávida de 7 meses, totalmente curada e pronta pra continuar FELIZ!
A convocação é geral e irrestrita e todo mundo pode participar: homens, mulheres, crianças. Não importa a idade nem a crença, muito menos a cor ideológica. Vamos fazer uma blogagem coletiva bacanérrima sobre câncer de mama e sua prevenção para apoiar o Outubro Rosa.
Conte a sua história, explique a prevenção, procure blogs ou sites que ajudam a esclarecer, pesquise, entreviste. O céu é o limite para a sua produção. Vamos cuidar bem de nossos peitos! E chega de medicalizar a nossa anatomia!
Até amanhã, mulheres de vida! (já já publico selinho aqui)
A Samantha Shiraishi convocou uma campanha superbacana, inspirada numa coletiva da Femama: o Outubro Rosa. A idéia é que a gente transmita às nossas queridas leitoras informações sobre o câncer de mama e a sua prevenção.
Lá no post da moça tem informações valiosas, saídas da tal coletiva. Frases de efeito, claro, criadas sob medida para criar efeitos no público-alvo: nós mesmas.
Primeiro ponto: não esperem que eu fique aqui escrevendo mama. ODEIO esta história de chamar seio ou peito de mama – é o nome médico -, me lembra mastectomia e mastoplastia, coisas nada agradáveis…
Em frente: como pessoa humana que encontrou nódulo no seio há três meses atrás – e não foi auto-exame não, é porque eu tenho mania de passar a mão no peito e nas axilas – é fundamental a gente fazer exatamente o que a especialista (mastologista, ó que lindo!) disse:
A mulher tem que se apoderar de seu peito. Ele não é dos homens, nem para fazer inveja nas outras mulheres, nem dos bebês. Seu peito é seu, só seu, minha amiga e leitora. Se ligue nele.
Mamografia é exame de rotina a partir dos 40. E a partir dos 30 para quem tem casos de parentes próximas. Lembrem que 2% dos casos de câncer de mama são em homens, tá?
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) avisa: o câncer de mama é a principal causa de morte na população feminina entre 40 e 69 anos. O Consenso para o Tratamento do Câncer de Mama (PDF) avisa: não há prevenção, embora a medicina saiba que obesidade e tabagismo podem contribuir para o surgimento de tumores. A solução é atenção para detectar o quanto antes:
Faça sua consulta com um ginecologista pelo menos uma vez por ano (nada de faltar, mocinha!).
Para diagnosticar, a mamografia, o auto-exame (a gente só pega quando está grandão, se liguem) e, diz o meu mastologista, em “mamas” densas é bacana usar o ultrassom também. Basta ficar atenta. E se está criando um dramalhão na sua cabeça, aproveita a ocasião e vá fazer uma visitinha para a Dani, do Enzimas Virtuais, que é sensacional e conta tudo sobre a jornada de uma mulher jovem quando descobre um nódulo – e ele é maligno.
Para outras informações, o site Mulher Consciente está aí para isso mesmo: ajudar todas nós a saber mais sobre esta questão.
Pronto! Missão cumprida. Cuidem-se Luluzes. Já já a gente volta com a programação normal – e novidades bacanas.