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Aborto, de novo e sempre, legal para todas

A primeira coisa que me aconteceu hoje foi encontrar a matéria da TPM sobre professoras que foram desligadas de universidades por defenderem a legalização do aborto. [Você pode conferir clicando no link: http://revistatrip.uol.com.br/tpm/professoras-defendem-a-descriminalizacao-do-aborto-e-sao-desligadas-de-universidades]

Eu parei de escrever pela legalização do aborto há muito tempo porque, depois de um post contra o Estatuto do Nascituro no finado blog 300 – que nunca parou de receber comentários pra lá de esdrúxulos – eu traumatizei.

No Brasil, além das questões estruturais e próprias da política neste momento específico, há uma cegueira e um silêncio eterno a respeito não só de nós, mulheres, mas também sobre as nossas questões.

Em recentes audiências públicas sobre o assunto, tive o desprazer de ver mulheres falando tanta babosa que a gente poderia fazer uma fábrica de hidratante sem medo.

O raciocínio é simples:

Todo indivíduo é igual perante a lei.

O Estado é laico – portanto não é sujeito a leis religiosas e a fé é livre.

A saúde pública é direito de todos e dever do Estado.

É também dever do Estado tratar e cuidar de todos os seus cidadãos de forma igual.

Isso é Constituição, certo? Vale para todo mundo? Não.

Então porque as mulheres não podem fazer laqueadura a qualquer momento de sua vida? (Não, não podemos, os médicos não fazem, se recusam mesmo que a pobre implore ou peça de joelhos, mesmo que cumpra a regra: maior de 25 anos OU dois fihos).

Por que diabos somos vítimas de violência obstétrica o tempo todo?

Por que somos obrigadas a ter filhos?

O Brasil tem uma montanha de leis que se sobrepõem à Constituição – que garante igualdade de direitos – e impedem as mulheres de dizerem o que querem para si e como querem. Vai daí que mesmo mulheres que legalmente têm direito ao aborto (em caso de estupro, risco à vida ou impossibilidade de sobrevivência do feto já é legal) não conseguem fazer o procedimento na rede pública.

Se você duvida, veja (ou reveja) o sofrimento de Severina.

Existem, hoje, não só projetos de lei que propõem exatamente a legalização. Existem centenas de projetos também que estão à caça dos pouquíssimos direitos que a mulher hoje tem de dizer o que quer ou não em seu corpo. Ninguém é obrigada a seguir grávida. Um punhado de células não pode se sobrepor à vontade de uma mulher adulta – ela, sim, cidadã. Isso é tão mínimo, tão básico, que chega a ser absurdo ainda termos que discutir o assunto.

Mas temos que falar. E as professoras foram demitidas exatamente porque falaram. Porque fazem pesquisas e conversam sobre isso com seus alunos.

Outro dia, num táxi, usei outro raciocínio simples com pessoa religiosa – e parece que funcionou. Porque eu tenho que seguir o que você acha? É muito simples: numa democracia cada um faz o que acha, de acordo com suas crenças. Exatamente por isso é direito da mulher brasileira decidir que não quer ser mãe. Porque ela não quer e ponto. Sem justificativa, sem prestar contas a quem quer que seja. Se a pessoa é religiosa e acha que é errado, que não faça.

A crença é livre – e você pode ser da umbanda, do candomblé ou da corrente evangélica que escolher, ninguém mete a colher, certo?

O corpo é pessoal e intransferível, bem como a vida. O impacto de um filho é algo absolutamente irreversível. Criança exige atenção, cuidado, dedicação absoluta – e não é por um tempo, é pelo resto da vida. As mulheres sabem disso, sabem que, em geral, não contam com companheiros para dividir a carga. Muitas de nós querem sim ter filhos – e estamos aqui prontas para ajudar todas a conquistar seu desejo da melhor forma. E quem não quer?

A criminalização das cidadãs brasileiras que não querem filhos (ou não querem este filho) é um absurdo. Temos o direito de resolver quando, como e se queremos filhos. Não somos chocadeiras (nem objetos).

Com a epidemia de Zika à solta o tema voltou. E ninguém menos que Dráuzio Varella diz tudo o que outros não podem (ou devem, por medo de demissão e outro tipo de retaliação) http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160201_drauzio_aborto_rs

Foto: Unsplash, Mario Azzi

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O que vocês querem para 2016?

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A Geovana começou o melhor tópico no grupo de discussão: Quais os planos para 2016? Tem alguma coisa que analisando o 2015 vocês fariam diferente?

O primeiro mês do ano me parece o melhor momento para fazer essa reflexão e pensar em mudar o que não gostamos no ano anterior ou projetar nossos desejos.

Claro que os depoimentos de lá seguem por lá e são pessoais. Usando o que conseguimos aprender com a nova plataforma P2, lá no WordPress.com, pensei em abrir o mesmo tópico para a gente discutir os nossos planos para 2016. [Se você ainda não é autora no LLC-WP, faz parte do nosso grupo e deseja participar, basta pedir que a gente inclui, ok?]

Um balanço do LuluzinhaCamp em 2015, do meu ponto de vista:

– no ano em que o protagonismo feminista tomou todas as redes e lançou projetos como o #primeiroassedio, lutas com agências de publicidade, pólos de publicação e problematização das questões de gênero tomando pé na web e atingindo inclusive revistas femininas, este grupo ficou escondido. É uma pena, porque temos tecnologia de convivência – e de educação – para transmitir.

– O Encontro Nacional, em outubro foi muito bacana. Foi uma amostra de que temos conteúdo – muito – e exatamente isso que está aí em cima: tecnologia de convivência e para educar.

– O grupo de discussão se revelou uma incubadora de talentos – e de apoio nas horas de necessidade, para as que dele participam. Crescemos para mais de 500 mulheres e criamos um grupo de conversa no Telegram, a grande alternativa ao WhatsApp, onde se conversa de tudo um pouco.

Este ano vimos dois projetos muito bacanas, o Maria Lab e as Py Girls ganharem o Women Tech Makers. Dá um orgulho danado ver esta mulherada competente produzindo projetos de inclusão e feminismo com tecnologia.

O Lugar de Mulher também virou um epicentro muito bacana do feminismo na rede, saindo um pouco da coisa dos grandes grupos e investindo no autoral.
Testemunhamos e participamos de diversos movimntos,como o #primeiroassedio e #SerMulheremTech.

Pra fechar o ano com chave de ouro fomos testemunhas oculares do tema da redação do ENEM: Violência contra a Mulher – e também teve pergunta sobre feminismo na prova. #WIN #WIN.

O que a gente faria diferente?

O que faremos como coletivo em 2016?

Comentários abertos, soltem tudo pra gente planejar!

Foto: Skley via Compfight cc

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#primeiroassedio

primeiro assedio

Pode ser linda a coragem de falar sobre uma coisa terrível. Inspiradas no @ThinkOlga e na hashtag #primeiroassedio milhares de mulheres compartilharam seus casos. No Twitter, no FB, em grupos de discussão. Foram 82 mil tweets sobre o assunto, até a meia noite de domingo, 25. E tem mais escondido na página do Zuck.

Para você que estava na Terra do Nunca, um resumo: na estreia do programa MasterChef Júnior, dia 20 de outubro, houve quem tivesse a coragem de fazer comentários sexuais sobre uma menina de 12 anos, que participa do programa.

Houve homens contando seus casos de assédio. Assédio – principalmente com crianças – é algo nojento horrível injustificável. Se adjetivos não faltam para desqualificar a atitude, sobram histórias – que continuam a reverberar, mais de 10 dias depois do fato.

O espaço público – e nossos corpos – nos pertencem. Mulheres, por incrível que possa parecer a alguns (cof, Cunha, cof) são, sim, cidadãs e têm direito à segurança e decidir o que querem para si. #primeiroassedio mostra que ainda estamos muito, muito longe disso.

Tudo bem não conseguir contar, tudo bem escrever e deixar só para você. Tudo bem só olhar fotos de filhotinhos por uma semana. O assunto é uma merda. Só não dá é pra ficar calada e quietinha – e fingir que nada aconteceu.

Como muito bem disse a JoutJout no vídeo sobre o assunto: tem que fazer escândalo, sim!

Sim, houve compartilhamento de histórias entre nós. Sim, elas estão abaixo, sem identificar as protagonistas.

 

Eu tava aqui pensando em como é difícil pra gente conseguir isso, essa libertação. Eu vi os relatos e fiquei arrasada. Eu chorava sem parar. É sempre gente muito novinha, muito criança. Às vezes por gente em quem a gente confia e às vezes por completos estranhos na rua, no ônibus, em qualquer lugar.

No meu caso, foi no caminho da escola e quando eu cheguei lá apavorada, contei pras pessoas, professores e colegas, que um cara tinha me seguido e falado um monte de coisa horrível, as pessoas disseram que eu devia estar feliz de ter arrumado um namorado, já que eu era gorda.

E quando eu fui contar o que aconteceu, ontem no fb, ainda ponderei. Mas não se eu estava pronta pra falar sobre aquilo, mas se eu não ia ser chata, se não ia me indispor com a família, se a família do meu marido ia interpretar mal e todas essas coisas.

Foi esse meu medo que me fez tomar coragem e falar.

A gente não pode mais se calar.

A.

Eu li alguns, fiquei angustiada, parei de ler e voltei pra rotina. Escrevi o meu, apaguei, reescrevi e apaguei mais umas trocentas vezes e não consegui publicar. Voltei pro twitter, li novamente, fiquei puta com uns imbecis que entraram na # no twitter e desisti de ler e acompanhar porque é muito triste pra quem sofre e pra quem não entende e julga.

P.

Não consigo parar de pensar na minha filha, com 4 anos e querer sair correndo com ela do Brasil. E abraçar e apertar.

Se eu empoderar ela pode apanhar. Se eu ensinar a ter medo, eles aproveitam para agredir. Ela é bonita. Até quando vou conseguir evitar que homens sexualizem a imagem dela? Não tem pra onde correr. Eu quero vomitar.

E.

Nossa, tô impressionada como cada mulher tem ao menos uma história de assédio pra contar… A minha eu havia esquecido até fazer uma sessão de renascimento e vir tudo à tona… Meninos mais velhos do prédio que me passavam a mão em todos os lugares e pediam pra ver a minha calcinha. Não consigo entender porque eu deixava e porque não contava aos meus pais… E também porquê meus pais e irmãos não conseguiam perceber, visto que a interação com estes meninos (amigos dos irmãos) era constante…

E como educar/ensinar as crianças a se protegerem quando não estivermos por perto? O que vocês fazem? A única coisa que eu e meu marido orientamos os filhos dele é que só eles mesmos, a mãe e o pai podem tocar/lavar/olhar o corpo, principalmente o pinto e o bumbum. Mas será que é suficiente?

C.

Pior é que eu lembrei de uma situação que nunca tinha pensado como abuso… Eu meio que recalcava que isso era “normal da idade”.

16 anos, numa viagem pro interior da Bahia com a escola. Todo mundo naquele furor hormonal, pegação total dentro do busão… Mas enfim, eu era bem fechada/tímida/meio carola até… Enfim. Num determinado momento eu resolvi ficar andando pelo ônibus e tava todo mundo em pé no corredor ou trepado nas cadeiras. E passei perto de um colega da sala que e achava bem bonito e tal, mas nunca tinha me dado muita moral. Ele me deu uma dedada por cima da calça jeans. Assim, do nada. Eu fiquei atordoada. Eu me sentia atraída por ele, mas isso era confuso pra mim. Será que só por isso ele tinha esse direito? Era assim que funcionava as pegações? Sei que ele me olhou bem nos olhos e deu uma piscada ou um sorriso, não consigo me lembrar direito. E eu fiquei bamba. De nervoso, de angústia. Ninguém nunca tinha me tocado nem nos seios. E pra tocarem mesmo, com meu consentimento e vontade, demorou uns 2 anos após isso e eu ainda tinha muito medo. E culpa. Maldita culpa. Malditas violências.

P.

Eu travei várias vezes. Chorei todos os dias ao longo da última semana. Tive raiva, nojo, medo, angústia, vontade de sumir do mapa, literalmente. Briguei com o marido só pra não ter contato íntimo. Mas eu concordo que só dá pra mudar se o assunto se assume um assunto. Se fica nas sombras, não tem diálogo. Mexer na merda faz feder, mas tem que varrer, tem que tirar da frente, não tem outro jeito.

Eu sempre tive a sensação de olhar ao meu redor e ver que todas tinham uma história dessas guardada. Mas ninguém dava o pontapé inicial, todo mundo se achava exceção, todo mundo tinha medo e vergonha, então todas se escondiam naquela “carinha de menina pura que nunca fez nada pra merecer algo do tipo” ou de “menina pura que não tem marcas desse tipo”. Você não podia nem transparecer a possibilidade de já ter vivido um abuso, a gente vivia num jogo de aparências. Mas eu percebia os olhares, meio que o tal do “entendedores entenderão”.

Por causa do #primeiroassédio, hoje eu posso falar disso sem me expor individualmente, sem esperar aqueles olhares curiosos de “se você está falando isso é porque viveu”, como se eu fosse um ET. Como se eu tivesse obrigação de contar o meu caso, já que estou falando com tanta certeza que isso é relevante. Ou até de que eu seria uma exceção, que não poderia generalizar, já que foi uma experiência individual. Resumindo, eu fiquei feliz porque saímos do âmbito individual. O tema virou coletivo, e isso nos protege e nos liberta. Isso é lindo.

Mas, mesmo assim, eu ainda não me sinto à vontade de falar publicamente sobre o meu caso. Não por ser pior do que qualquer outro, mas é um misto de sentimentos e conflitos internos muito difíceis de lidar. Como em muitos casos, envolve minha família, gente que eu gosto muito e que vai ver o mundo cair. Não estou preparada pra sentir (de novo) o machismo contra mim, dentro da família, manja? Vejo minha mãe toda engajada no tema e com medo de fazê-la sofrer com meus relatos. Ela até sabe (muito por alto), mas foi o pai dela, com a filha dela. É muito foda pra todo mundo. Eu só queria que ele morresse logo pra eu poder mandar ele à puta que o pariu, que o fantasma de que ele está vivo por aí fosse embora deste mundo. Pensa em como eu olho pros avós da minha filha hoje? Pro meu próprio pai que nunca me fez uma gota de maldade? Não confio em ninguém. É uma neurose eterna. Quanta gente vive assim? Tem que gritar, mesmo, como a Jout Jout falou. E dar soco na cara e chute no saco, desculpem a sinceridade.

Vou dormir com um nozinho na garganta agora, porque dói mexer em ferida, mas é assim que ela vai curando aos poucos também.

M.

Meu #primeiroassedio também aconteceu dentro de casa. Tinha no máximo uns 7 anos e é muito tenso pensar que alguém que hoje tem filhos e fica pregando o amor de Deus, tenha tido coragem de fazer o que fez. Sendo filho dos mesmos pais, sendo sangue do meu sangue.

Depois tiveram outros. Um primo que “gostava tanto de mim” que vivia me levando pra passear pelo bairro pra poder passar a mão no meu corpo com a desculpa de que ia ajeitar minha roupinha. Depois o filho da minha madrinha de batismo q uma vez mostrou o pinto e disse que iria colocar todinho em mim, que uma hora ele iria “me pegar” sem se importar se eu quisesse, claro que corri dele a vida toda e dei graças a Deus quando ele foi atropelado e morreu ainda adolescente.

E a ultima que me lembro de um outro primo já adulto, era vizinho, eu devia ter uns 13 anos, esperou a oportunidade de me encontrar sozinha em casa pra entrar e trancar a porta, falando “agora você não me escapa”, corri dentro de casa mas ele conseguiu me encurralar na lavanderia e se esfregar em mim com o pau pra fora. Essa foi a única vez que tive coragem de contar pra minha mãe, afinal eu já era grandinha pra falar do assunto que sempre fora tabu entre nós duas (ela nunca falou sobre sexo comigo sob hipótese alguma) e claro que dentro do machismo incutido na mente dela, achou que eu tinha provocado e por isso ele foi pra cima de mim. Bem feito! (sim, ela me disse isso!)

Hoje tenho muitos problemas relacionados a sexualidade e tenho certeza que estes acontecimentos tem uma grande parcela de culpa nisso. Sou casada e tento remediar a situação conforme dá, já pensei até em fazer terapia, mas sempre vou deixando pra depois… enfim, já me sinto mais aliviada por ter podido contar pelo menos pra vocês aqui.

P.

Pelas entrelinhas do seu segundo parágrafo, percebo que sua história é parecida com a minha. Penso a mesma coisa. Sangue do meu sangue. Nunca consegui falar sobre isso com ninguém, ninguém mesmo. Tenho vergonha até de pensar na frase dentro da minha cabeça, escrever ou falar ainda é meio que inconcebível para mim.

Essa é uma das razões que não saio na rua sozinha, tenho muito medo. Tenho medo de ficar em qualquer ambiente sozinha com algum homem. Qualquer homem. Só me sinto segura com meu namorado (que nem sem sonha com o que aconteceu).

Essa é razão pela qual só consegui pensar (e fazer) em sexo aos 24 anos e ainda assim com muita dificuldade.

Então um abraço muito apertado para você, para mim, para nós. E que nosso coração (sofrido, cheio de marcas, medos) um dia possa bater em paz.

Sonho com o dia em que as mulheres não precisarão mais ter tanto medo. Que todos os homens sejam dignos, igual o meu namorado é. Que todas as mães saibam criar seus filhos da mesma forma que minha sogra soube.

J.

Meu primeiro assédio foi aos três anos e meio, pelo motivo alegado já aqui, de corpinho de menina grande. Lembro que minha mãe e eu mudamos para uma casa num bairro diferente e uma vizinha veio conversar com a minha mãe para que não deixasse que eu ficasse de calcinha sozinha no quintal de casa porque todo homem que passava mexia comigo e a vizinha ficou preocupada.

Tive primo me mostrando o pinto, prima do meu pai tentando passar a mão em mim, isso mesmo, prima. Entre inúmeros homens de várias idades que me fizeram propostas horrorosas. Com 14 anos um rapaz que tinha sido aluno da minha mãe, invadiu minha casa, e disse que eu não escaparia, mas lembrei que minha mãe tinha mandado colocar uma porta de madeira maciça no banheiro e corri para lá e ele depois de tentar colocar a porta abaixo e não conseguir foi embora. Ficar sozinha nunca mais foi a mesma coisa.

Depois lembro que com dezesseis anos um homem casado que resolveu me perseguir no caminho para a escola. Nem ai eu pude ficar sozinha. Minha mãe passou a me levar.

Acho o mais triste de tudo isso essa imposição sexual na nossa liberdade em todos os sentidos. Espero que tudo isso aqui sirva pra dizer que estamos juntas para dizer que chega de machismo.

Espero que minha filha e as filhas de todas vocês não passem por nada parecido com o que nós passamos, mas que se acontecer algo parecido elas possam ter em nós seus portos fortes.

F.

O meu primeiro assédio foi aos 12 anos, num carnaval de rua. Na verdade, antes desses relatos virem à tona, minha memória tinha escondido essa situação, não lembrava mais.

Mas o mais impressionante é ouvir do namorado: “nossa, eu não achei que era tão comum! vc viu a mulher do fulano? vc viu a namorada do beltrano?” E eu responder: “eu já passei por isso, isso, isso e isso.”

Me apavora num nível tão imenso saber que a filhota tem 9 anos e começa a entrar nesse “grupo de risco”, que vocês devem imaginar…

O silêncio que a gente manteve sobre isso é aterrador. Ainda mantemos, vejam só: eu não quero falar.

D.

Eu sou mãe de duas meninas. E pra mim é uma batalha diária interna que eu travo dentro de mim entre a mulher e a mãe, quando uma empodera e diz “você tem todo o direito de vestir o que quiser” e a outra emenda com um ” mas esse short está curto demais pra você sair e ir andando até a casa da fulana”.

Eu meio que cheguei a um meio termo, dizendo que elas não são fortes ainda o suficiente para não se deixar humilhar, constranger ao serem assediadas. Que elas precisam ainda aprender a se calejar e entender que o respeito não é “merecido” – é inerente a todo ser humano. Que elas vão aprender a revidar, a brigar, a discutir, a não abaixar a cabeça. E todas as vezes que eu leio que uma menina tentou contar que foi assediada e ninguém acreditou eu me lembro de um depoimento do escritor Primo Levi, que sobreviveu aos campos de extermínio nazista: quando acabou a guerra, ele queria contar o que tinha acontecido a ele e a milhões de outros judeus, mas literalmente ninguém quis ouvir. Todos diziam que era preciso “recomeçar” e “deixar tudo para trás” quando ele tentava falar. Toda a população do planeta se recusava a discutir o que havia acontecido a milhões de judeus, ciganos, gays, deficientes. Ele então escreveu, e muito. Mas era como falar sozinho; ele não sabia se havia alguém ouvindo. E foi assim até ele se matar, em 1987. Na época, Elie Wiesel declarou que “Primo Levi morreu em Auschwitz, quarenta anos atrás.”.

A gente morre um pouco a cada vez que é assediada. Vamos falar, e muito, e ensinar noss@s filh@s a falar, também.

S.

Eu lembro que quando eu era criança, alguma coisa no olhar de certos vizinhos me deixava desconfortável, com nojo. Eu sabia que não era seguro ficar sozinha com eles em algum lugar, mesmo que nunca tenha acontecido nada.

A primeira vez eu nunca esqueci. Tinha 13 anos. Eu estava indo com minha mãe ao cinema ver “Uma Cilada Para Roger Rabbit” e estava ensaiando minha feminilidade, coloquei um vestido tubinho que tinha ganhado – normalmente eu só andava de calça jeans e camiseta. E de repente, no meio da calçada lotada, um homem beliscou a minha bunda. Foi a primeira vez que alguém me tocou sem o meu consentimento. Simplesmente beliscou e sumiu no meio da multidão, levando com ele a minha segurança. Eu lembro que fiquei absolutamente confusa – mas ele não tá vendo que eu sou uma criança? O que esse moço quer comigo? Porque ele fez isso? Será que foi o meu vestido?

E isso meio que parece que marcou minha entrada oficial para a adolescência, porque os assédios não pararam mais, inclusive o velho nojento de bicicleta que disse “bocetuda” quando eu estava voltando da escola, até que o volume ficou tão grande que eu não lembro mais de quantas vezes.

L.

Essa é a terceira vez na vida que compartilho sobre esse momento.

A primeira foi em um encontro onde só tinham moças, quando o assunto veio à baila, uns seis anos atrás. O chocante dessa reunião: numa mesa de 10 mulheres, pelos menos 8 relataram ter sofrido alguma forma de assédio em idades entre 9 e 15 anos.

A segunda vez foi ontem à noite, para o meu marido.

Comparado a outros depoimentos, nossa!, imagino esse meu ser light. Mas a lembrança do ocorrido está aqui, junto com a sensação no estômago.

Eu tinha 12 anos e minha mãe me pediu pra ir ao açougue da nossa rua comprar carne para o almoço. Desci sozinha e na volta, saindo da loja, um cara de aproximou de mim e com uma habilidade impressionante conseguiu se aproximar do meu ouvido e dizer pra mim: “Deixa eu cheirar o teu cu.”. Apertei o passo e corri pra casa sem saber o que pensar.

Eu tinha 12 anos e o máximo de palavrão que falava era “droga”. Eu tinha 12 anos e em 1989 nem meu primeiro beijo eu tinha dado ainda.

O assédio foi velado, somente algoz e vítima perceberam. Mas a sensação de vergonha e constrangimento, eu sinto até hj.

Se eu quero esquecer? Não, não faço mais questão disso. É marca da minha história.

Mas, do fundo do coração, não quero que minha filha, hj com 10 anos, passe por isso.

A.

O Brasil tem 52 mil mulheres estupradas por ano, segundo os números de boletins de ocorrência registrados. Mas o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) estima que 500 mil mulheres são vítimas de estupro a cada ano no país e, dessas, 70% são crianças e adolescentes – sendo 51% menores de 13 anos. [Informações coletadas por uma repórter da BBC Brasil]

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Aprenda a editar na Wikipedia! Veja como foi o Edit-a-thon que celebrou mulheres no Rio de Janeiro

Contém trechos do release escrito por Heloisa Andrade

Em 2015 aconteceram por enquanto eventos 20 de junho no Rio de Janeiro, 18 de julho em Salvador e o Raul Hacker Clube se entusiasmou: no dia 22 de agosto teve Edit-a-thon das minas – folclore brasileiro e 19 de setembro Edit-a-thon das piratas! No próximo dia 31 de outubro a edição acontece em em São Paulo

O tempo frio e chuvoso segurou alguns inscritos em casa, mas não desanimou os presentes e outros participantes que acompanharam online. O evento foi na sede da empresa CI&T em Botafogo que gentilmente cedeu o local de trabalho simpático com um café que não deixou o pique cair durante todo o dia. A ideia era promover a Wikipédia para editoras mulheres (que ainda são sub-representadas na comunidade, com apenas 15% de participação) e aumentar o conteúdo disponível sobre mulheres notáveis. 

No vídeo você pode tirar outras dúvidas que rolaram enquanto os participantes do Rio aprendiam a editar e se ainda não tiver uma conta na Wikipedia, crie uma e leia o tutorial para se familiarizar:

O mais importante é que as participantes novatas se animaram a continuar participando da comunidade. “Eu criei um verbete sobre uma coreógrafa que criou uma metodologia para ensinar balé a pessoas cegas. Agora outras pessoas também vão contribuir e eu vou saber ainda mais sobre ela!”, disse Pilar Borges Barbosa, estudante universitária e editora estreante.

Ao todo no evento do Rio de Janeiro, foram 13 páginas criadas ou melhoradas pelos voluntários: Meridel Le Sueur, Jennifer Niederst Robbins, Stormy Peters, Audre Lorde,  Fernanda Bianchini, Margaret Hamilton, Anna Anthropy, Mary Seacole, Rosana Munhoz Silva, Elisa Frota Pessoa, Elza Furtado Gomide, Maria José von Paumgartten Deane e Ada Lovelace.

Que venham mais edit-a-thons e que o conteúdo brasileiro na internet melhore em qualidade e confiabilidade quando se trata de grandes mulheres!

 

Saiba mais:

 

Desde 2012 existem esforços concentrados em conjunto com o Ada Lovelace day

http://www.bbc.com/news/technology-19675169

http://www.nature.com/news/edit-a-thon-gets-women-scientists-into-wikipedia-1.11636

Como iniciou http://chronicle.com/blogs/profhacker/how-to-organize-your-own-wikipedia-edit-a-thon/49757

 

Primeiro Wiki-mulheres, no Dia da Mulher no Brasil (2013): http://goo.gl/5bhwqy

Edit-a-thon da minas 2.0 planejamento sobre a rodada 2015: http://goo.gl/5y3nkm

Primeiro  Edit-a-thon das minas em São Paulo organizado pelo Think Olga e Cinese (2014)

http://br.okfn.org/2014/05/13/edit-a-thon-das-minas-por-mais-mulheres-na-wikipedia/http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Video_Luciana_Galastri_e_o_Editathon.webm

 

O que é editathon?

Editathon é uma maratona de edição das páginas da Wikipedia. Este, em especial, é para criar e melhorar os verbetes em português de mulheres que fizeram a diferença em seus campos de atuação, sejam elas brasileiras ou estrangeiras, contemporâneas ou históricas, cientistas, esportistas, ativistas ou políticas.
Interessadas (e interessados também) aprenderão a usar a ferramenta de publicação e, durante o editathon, acessarão os perfis escolhidos das mulheres de destaque para gerar novo conteúdo e informações. Dá trabalho? Sim, um pouco – mas é uma chance de fazer mudanças pra valer!
Se desejar, escolha de antemão quem são as mulheres cujos verbetes você quer melhorar. Escolha alguma destas mulheres incríveis ou sugira outras: http://goo.gl/d3S2YZ. Pesquise material offline ou links sobre elas, fique à vontade. A Wiki permite que qualquer pessoa crie tópicos, edite artigos e ajude a divulgar informações com fontes confiáveis. Devido à relevância da Wikipédia, tudo o que for escrito será mostrado nos primeiros lugares nas buscas do Google. A ferramenta é uma das portas de entrada para o conhecimento, utilizada por pesquisadores e jornalistas, então é importante que as mulheres que fizeram trabalhos extraordinários estejam representadas ali. Estaremos, na prática, diminuindo o hiato de gênero (“gender gap”), e isso é de fundamental importância!
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#Luluzinhacamp2015 – Oficina de Coaching

Entre as várias rodas que aconteceram no LuluzinhaCamp 2015 uma bem interessante foi a dinâmica de coaching que a Patrícia Martins de Andrade, da YBR fez com a gente. Nos últimos encontros do grupo a Patrícia tem feito diferentes dinâmicas com as Luluzinhas, que fazem com que a gente pare e olhe para nós mesmas. A partir dessa auto-observação, conseguimos entender um pouco porque agimos de determinadas formas e se é válido – e possível – mudar algumas coisas em nós.

Dessa vez, Patrícia propôs uma análise SWOT. Quem trabalha, ou estuda, com marketing e propaganda está acostumado com o termo [ou sua versão em português, a análise FOFA] aplicado a empresas, marcas, mercados. SWOT significa Strenght, Weakness, Oportunity, Threat [ou em português, FOFA – Força, Oportunidade, Fraqueza, Ameaça], e são esses quesitos que são analisados com essa ferramenta. No coaching esse estudo é voltado para a pessoa.

Você pode tentar fazer essa autoanálise depois de ler esse post. Pegue uma folha de papel e divida-a em quatro quadrantes. Agora, marque cada um como Força, Fraqueza, Oportunidade e Ameaça. Veja como preencher cada um deles agora.

Análise_swot

 

Quais os meus pontos fortes?

São aqueles pontos que são positivos em mim, o que pode me ajudar a atingir algum objetivo, realizar alguma coisa. Para algumas pessoas esse ponto é bem difícil, lembrar de características que são elogiadas, atitudes que você toma e te deixam orgulhosa consigo mesma.

Ser atenciosa a detalhes, ser organizada, ter mãos firmes, raciocínio rápido, ser pontual…

Quais meus pontos fracos?

Aqui entram as características que você normalmente não gosta, e que você acha que dificultam que você vá adiante. Algumas pessoas têm dificuldade em listar esse tópico porque não gostam de admitir muitas das coisas que entram aqui.

Pouca criatividade, pouca sociabilidade, insegurança, falta de pontualidade, distraída, desorganizada…

Quais as oportunidades que eu tenho, de maneira palpável, na minha vida?

Aqui são as coisas que você pode realizar, dentro da sua realidade. Se você é jornalista, virar astronauta não é exatamente uma oportunidade [pode até ser, trabalhar para a NASA, fazendo crônicas, quem sabe?]. Esse é um ponto bastante particular, porque deve levar em conta suas ambições e habilidades.

Dar aula, mudar de cidade, estudar fora do país, fazer um mestrado, casar…

Quais as ameaças que podem existir para que eu execute essas oportunidades?

Aqui você deve cruzar as oportunidades com suas fraquezas, e ver o que te impede de realizar as coisas que você deseja fazer.

Demora em executar os planos, paralisia, falta de dinheiro…

 

Luluzinhas durante a oficina de coaching
Luluzinhas durante a oficina de coaching

A partir dessa análise, principalmente das fraquezas e ameaças, você começa a traçar alternativas, formas de contornar as ameaças. Se o meu problema é não ter dinheiro para abrir um negócio, posso procurar um investidor. Se meu nível de inglês não é bom, mas a melhor especialização que posso fazer é nos Estados Unidos, começo a fazer aulas, e assim por diante.

Fez a sua análise SWOT? O que achou? Vamos começar a fazer diferente e atingir os objetivos?

Se você achou legal a dinâmica, conheça o trabalho de coaching da Patrícia. No fim de semana dos dias 7 e 8 de novembro acontece a maratona de coaching YBR e Trampos, e pode ser uma ótima chance de começar a mudar.