Lendo sobre a FLIP – Festa Literária de Paraty desse ano, me deparei com a escritora argentina Pola Oloixarac, que veio lançar seu primeiro livro As Teorias Selvagens. E por alguma razão fiquei com Pola na cabeça. Um dia na livraria, passeando entre as estantes, lá estava ela. Abri na página 100:
Dentro e fora da Ásia carnívora, a face do tigre é esplendor das deidades mortíferas. As nupcias de Kali e do tigre, no culto guerreiro da Índia, são um capítulo do apetite divino pelos atributos gêmeos do poder e da animalidade. A história híbrida das transformações guerreiras perpetra desmandos psicológicos e gráfciso como a efígie do Assurbanipal assírio, que narra a ferocidade dos tigres e leões depois das chuvas que inundaram a Terra, cobrindo-os dos atributos do felino mortal (o tigre é o tigre do homem e do tigre).
Gostei. Fui para página 147:
O céu muda de cor e filtra as árvores de rastros lúgubres e esverdeados. Vem uma tormenta ou cai a noite. Vou atrás de Collazo e, embora não me veja, tampouco estou me escondendo, o vento se rompe em lascas, cruza minha cara a toda velocidade, as folhas me estalam na cara. Quase grito com toda a boca, mas fico quieta, rio. Acho que vou assassinar esse imbecil. Vou assassiná-lo porque tenho a piedade e a nobreza de escolher minhas vítimas por motivos estritamente pessoais.
Pola me ganhou. É um livro de contos, dividido em três partes. Com uma linguagem ágil. Uma prosa que tenta destrinchar a tudo e a todos, algumas vezes delirante e bem atual, cheia de referencias da música, literatura e do cotidiano das grandes cidades. Além de sexo, política, filosofia e juventude.
“Gosto de pensar na cultura como um espaço em guerra, guerra por significados. Quando escrevi o romance queria conversar com certa substancia contemporanea, e tinha a sensação de que, para escrever, era importante ter uma imaginação política”.
E revelou uma inquietação que a incomoda na forma como seu trabalho é recebido:
“Me parece que quando uma mulher fala de ideias, com certa ambição mental, tenta-se trivializar isso, como se ela no fundo estivesse falando de outras coisas, de emoções, de relações familiares”, afirmou.
A violência infelizmente está espalhada pelas grandes cidades. Porém, homens e mulheres vivem, sentem medo e enfrentam experiências e restrições diferentes. Mulheres sentem muito mais medo do assédio e da violência sexual, seja de dia ou de noite. Há desde preocupações com o assédio sofrido nos transportes coletivos até a preocupação com estupros que limitam a mobilidade das mulheres e reduzem seu acesso a espaços públicos. Porém, o pior é saber que muitas vezes as mulheres são culpabilizadas pela violência que sofrem. Foi roubada? Quem mandou passar naquela rua escura a essa hora? Milhares de mulheres são obrigadas a voltar para casa tarde da noite porque trabalham ou estudam. Foi violentada? Quem mandou sair de minissaia ou com essa roupa indecente? Quem mandou ficar bêbada? Nenhuma dessas atitudes é um convite ao estupro.
No texto “Cidades mais seguras para mulheres”, Renata Neder, da ONG internacional Action Aid, discute a segurança das mulheres nas cidades do mundo, pontua questões que contribuem para a insegurança e fala sobre o que está sendo feito em alguns países:
É muito comum que meninos comecem a andar sozinhos pela cidade muito antes das meninas, ou que rapazes voltem para casa de ônibus de madrugada enquanto as adolescentes preferem os taxis ou a carona de um dos pais. Mulheres sentem medo de praças vazias, de ruas desertas, de becos escuros, de transporte público, com muito mais frequência que os homens. E, por isso, internalizam no seu cotidiano diversas práticas ou restrições que as fazem sentir mais seguras. Fazemos isso com tanta naturalidade que nem nos indignamos mais com o fato de, na prática, não exercermos os mesmos direitos que os homens no acesso à cidade e vivência da vida urbana.
Não é certo delegar às mulheres a responsabilidade por sua segurança. As cidades devem ser seguras para as mulheres, e Estado e sociedade devem garantir isso.
É fundamental garantir a segurança das mulheres e sua mobilidade nos espaços públicos e privados. E segurança, neste caso, não tem a ver apenas com não-violência, mas com todas as decisões que muitas vezes as mulheres são forçadas a tomar (a respeito de uma roupa ou de um trajeto, por exemplo) por medo e por insegurança.
As cidades seguras também dizem respeito aos estereótipos sócio-culturais e pressupostos a respeito do “lugar” da mulher na sociedade e na cidade. Ideias que ditam o que é apropriado ou não para uma mulher. Para tornar uma cidade segura para as mulheres, é fundamental questionar essas ideias construídas e estabelecidas.
As cidades brasileiras são seguras para as mulheres? Como nos sentimos no ônibus ou no metrô lotado? É apenas a sensação de que estamos numa lata de sardinha ou torcemos o tempo todo para que ninguém passe as mãos por nosso corpo? Quando estacionamos o carro à noite na rua ou quando voltamos para pegá-lo, temos medo apenas de um assalto ou de que a pessoa nos leve para um lugar ermo e nos ameace? Nas ruas movimentadas dos grandes centros, as mulheres podem caminhar livremente sem serem abordadas com palavras agressivas de quem a deseja com os olhos? No ponto de ônibus vazio, quando alguém vem abordá-la, como você se sente? Ao contratar um serviço para ir até sua casa você toma alguma precaução? Quando fica bêbada num bar ou na boate, você já escapou de alguma situação de abuso? Quantas vezes você já soube de casos de estupro próximos da sua faculdade?
Pensar em cidades mais seguras para mulheres não passa apenas por mudanças na infraestrutura. Isso é o básico, é preciso ir além e questionar os pressupostos sociais e culturais a respeito do que é considerado o “lugar” adequado para a mulher na sociedade e, consequentemente, na cidade. É necessário que as mulheres sejam vistas como cidadãs, com direitos que devem ser respeitados ao invés de culpá-las pelo tamanho da saia que usam.
Yoko Ono, artista plástica e viúva de John Lennon, disponibilizou em seu canal do youtube o documentário Bed Peace, que acompanha o famoso protesto Bed-In. John e Yoko tinham se casado recentemente e decidiram usar a popularidade do evento para promover a paz. Ficaram uma semana em um quarto do hotel Hilton em Amsterdã, cercados por visitantes e jornalistas para pedir o fim da guerra do Vietnã. O protesto foi repetido em Montreal, atraindo enorme atenção midiática com um ato que até hoje permance icônico na cultura pop. No segundo final de semana, nasceu a canção “Give Peace a Chance”.
O objetivo de disponibilizar o documentário é apoiar pacifistas, Yoko resolveu liberar o vídeo nesta semana por conta da onda de violência em Londres. O vídeo fica no ar só até 21 de agosto, portanto corra para dar o play aí embaixo. Junto com o documentário Yoko deixou a seguinte mensagem:
“Queridos amigos,
Em 1969, John e eu fomos ingênuos ao pensar que fazendo o Bed-In ajudaria a mudar o mundo. Bem, pode ter ajudado. Mas na época, nós não sabíamos.
Mas foi bom que filmamos tudo. O filme é muito poderoso agora. O que dissemos naquela época poderia ter sido dito agora.
Na verdade, há coisas que dissemos no filme que podem encorajar e inspirar os ativistas de hoje. Boa sorte para todos nós. Vamos lembrar que a GUERRA ACABA se nós quisermos. Está nas nossas mãos e de ninguém mais. John gostaria de ter dito isso”.
No Brasil, aborto é crime. E apesar de 1 em cada 7 mulheres brasileiras já terem realizado um aborto, de acordo com uma pesquisa de 2010, apenas as mulheres pobres acabam sendo processadas e tratadas como criminosas. Independente de ser contra ou a favor da legalização do aborto, é preciso encarar que ele existe e é uma prática recorrente em nossa sociedade. E, justamente por ser proibido, acaba sendo também um problema de saúde pública. Milhares de mulheres morrem todos os anos em decorrência de abortos mal sucedidos, sem assistência médica, sangrando abandonadas. Se abortar é ruim, abortar na clandestinidade, ser presa ou até morrer é muito pior.
No Sistema Único de Saúde (SUS) são realizadas 180 mil curetagens por ano, decorrente de abortos provocados, pois espontâneos não exigem internação, segundo o Ministério da Saúde. Outra estatística que demonstra a gravidade dos abortos ilegais é que chegam a causar 15% de mortes, a quarta maior causa de óbitos de grávidas no país. Continue lendo em Pelo direito de escolha.
É importante falar sobre as diferenças entre descriminalização e legalização do aborto. São duas coisas diferentes. O aborto sendo criminalizado, só beneficia as clínicas de aborto clandestinas que lucram muito no comércio ilegal de abortamentos. Mulheres com dinheiro tem a opção de pagar caro por um aborto seguro ou viajar até um país que tenha o aborto legalizado. O problema fica com as mais pobres, na maioria negras. Criminalização aumenta a hipocrisia e os bolsos de muita gente. Você pode ser contra o aborto, mas ser a favor da descriminalização, para que as mulheres que abortam não sejam presas. Pense no desespero de uma mulher que decide arriscar a própria vida em clínicas clandestinas e em seguida procura um hospital público por causa das complicações. Ela merece ser presa? A conhecida da sua mãe, a colega de faculdade, a Luiza Brunet, merecem ser presas?
O perfil dessas mulheres e como chegam às mãos da Justiça, questões até então desconhecidas, foram reveladas por um estudo realizado pela Universidade de Brasília (UnB) e pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Intitulada Quando o aborto se aproxima do tráfico, a pesquisa analisou 10 processos judiciais e inquéritos policiais contra mulheres e vendedores de abortivos denunciados pelo Ministério Público do Distrito Federal entre 2006 e 2010. Recentemente, o trabalho ganhou aval científico, referendado pela revista Ciência & Saúde Coletiva, que prevê sua publicação em breve.
Entre as sete mulheres, todas moradoras do DF, indiciadas nos 10 processos analisados, 70% nasceram em cidades do interior do Norte ou do Nordeste e tinhamcompanheiro fixo. A escolaridade de nenhuma passa do ensino fundamental e as atividades desempenhadas vão de domésticas a funcionárias do comércio. “Não há uma menina universitária ou de classe média. Elas não fazem aborto?”, indaga a antropóloga Debora Diniz, uma das autoras da pesquisa. Para a estudiosa, além da penalização da mulher menos favorecida do ponto de vista econômico e social, o estudo traz outro dado alarmante: a morte de duas delas. Segundo Debora, o dado precisa ser compreendido de maneira séria: “São duas entre sete, é uma taxa alarmante. Os processos revelam que elas morreram porque demoraram muito a procurar ajuda devido ao medo de serem denunciadas”.
Financiada pelo Fundo Nacional de Saúde, a Pesquisa Nacional sobre Aborto (PNA), levantamento mais completo sobre o tema no país, mostrou que 15% das mulheres entre 18 e 39 anos já realizaram aborto uma vez na vida. Do total, 48% delas usaram medicamentos abortivos e 55% necessitaram de internação hospitalar por complicações. Não foram demonstradas diferenças significativas entre as religiões declaradas pela entrevistadas — 15% são católicas, 13% declararam-se evangélicas, 16% responderam ter outras crenças. O restante não tinha religião ou não respondeu. Continue lendo em Aumentam Processos Contra Mulheres de Baixa Renda Que Fizeram Aborto.
A legalização do aborto é uma questão mais ampla. Significa dar a mulher o direito de decidir. Há muitas discussões que vão desde o direito à vida do feto, passando pelo prazo máximo para a realização de um aborto legal, até o direito da mulher sobre seu corpo. O Brasil avança lentamente nessas discussões. É sempre importante falar sobre prevenção e planejamento familiar, mas é pouco difundido que há remédios que influenciam na eficácia da pílula, que nem toda mulher se adapta bem à pílula ou ao DIU, que camisinha pode falhar. Pode-se defender o celibato, mas sabe-se que a discussão vai muito além disso. Atualmente o aborto é legal nos casos em que houve estupro e quando há risco de vida para a mãe. Em breve, o STF deve votar a questão dos fetos anencéfalos. Mas nem essas exceções estão garantidas, no Congresso há mais projetos para aumentar as punições e restringir a opção da mulher do que o contrário. É preciso deixar de lado a hipocrisia, os preceitos religiosos e encarar de frente a questão do aborto no Brasil. Um problema que mata milhares de mulheres todos os anos e que já provou não deixar de existir, mesmo estando há muito tempo na clandestinidade. Quem ganha com a criminalização do aborto no Brasil? Com certeza não são as mulheres.
Faz tempo que Drew Barrymore não é mais a garotinha de E.T. Hoje além de atriz ela também é produtora e diretora, sempre procurando sair do óbvio, mesmo que seus filmes sejam comédias românticas. Ela inclusive defende a existência de comédias românticas ou rom-coms como são conhecidas nos Estados Unidos. Em uma entrevista de divulgação de seu filme Amor à Distância, Drew disse:
Pergunto sobre Amor à Distância e a importância de comédias românticas. “Preciso delas no final de um dia de merda – um final feliz e agradável, um conto de fadas”, ela concorda. “Por outro lado, gosto de filmes que são baseados na realidade, mas ainda assim mantêm a sua comédia.”
Sua personagem Erin é, ao mesmo tempo, dura e vulnerável ??- uma moderna Katharine Hepburn. “Não estou em um ponto da minha vida onde quero interpretar uma personagem que diz: “Eu só preciso me casar”. Juro por Deus, em algumas comédias românticas, as mulheres parecem estar tomando injeções de esteróides, e eu sinto que elas vão comer o marido vivo no dia do casamento. Isso só me apavora – Eu não quero fazer nada relacionado a isso. Eu quero ter um emprego. Na verdade, este filme faz a pergunta: Como você mantém o trabalho e o cara ‘? Essa é uma pergunta que estou interessada em discutir, não como eu vou arrancar seu cabelo fora, porque você roubou meu vestido de noiva “. Não me importo com isso. “
Sempre gostei de ver Drew em cena com seu rostinho de menina. Ela lembra aquela nossa amiga louquinha que sempre sabe onde estão as melhores baladas escondidas na cidade e que tem os amigos mais modernos. Além de produtora do remake da nova série de tv As Panteras, Drew tem caminhado pela direção. Estreou em 2009 com o divertido Whip It! — que no Brasil ganhou o título: Garota Fantástica. Neste filme Ellen Page é Bliss Cavendar, uma texana de 17 anos que se vê diante de duas opções: levar a sério o concurso de beleza da cidadezinha onde vive ou tentar a sorte no circuito do “roller derby” – modalidade esportiva predominantemente feminina, com equipes disputando corrida de patinação em pistas ovais. No meio de tudo isso, é claro, ela conhece um carinha por quem se apaixona. Mas Bliss é nossa heroína da adolescência, vai lidar com os pais, a melhor amiga, o paquera e não vai deixar nada barato. Um filme com ótima trilha sonora, cenas de ação sobre patins e muito girl power.
E essa semana descobri que Drew dirigiu o clipe da música “Our Deal” para a banda Best Coast. No clipe uma garota e um garoto de gangues rivais se apaixonam, há todo um clima West Side Story e a música é ótima. No papel principal ainda temos a fofíssima Chloë Moretz, que é outra atriz que adoro. E a mão de Drew está lá, contando uma história cheia de sensibilidade e amor, com uma personagem durona e vulnerável, como todas somos.