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Eu tenho um marido foda

Babi e Marcos (Fetu) em um shopping de SP, 2013
Babi e Marcos (Fetu) em um shopping de SP, 2013

Muita gente me pergunta sobre o meu relacionamento com o Marcos: como é, o que mudou, o que melhorou e o que piorou. E a única resposta que eu tenho é “não sei”.

A verdade é que eu não sei como agir, e vamos combinar: quem é que sabe? Quem é que nasce sabendo que o marido vai ficar tetraplégico numa certa altura da vida, e como lidar? Eu não sei.

Não foram poucas as vezes que eu pensei em desistir de tudo, correr pras montanhas, arranjar um namorado, mudar pra India. Mas eu tenho um marido foda: cheio de amigos, querido, divertido, inteligente, bem humorado, corajoso, forte, entre tantas outras qualidades que, sabemos bem, não são fáceis de encontrar, principalmente reunidas em um homem só.

Todos os amigos dele vêm me contar histórias divertidas, emocionantes, felizes, de momentos em que o Fetu, como ele é conhecido, foi corajoso, divertido, parceiro, afetuoso. Até mesmo pessoas que conviveram pouco com ele.

Dia desses, me perguntaram o que um homem precisa ter pra me ganhar. Eu respondi várias coisas, mas esqueci do principal: o homem precisa ter bons amigos, e o Fetu tem mais do que isso.

Um dia, todos os colegas de trabalho dele invadiram a casa dos pais, pra passar um dia inteiro com o Fetu. Era feriado, e todo o mundo se juntou pra fazer um almoço incrível pra ele.

Em outro dia, os amigos foram com a gente até o Auditório Ibirapuera, pra assistir o show do Jards Macalé de graça, porque no dia seguinte, ele seria internado, para fazer a tão esperada cirurgia plástica que fecharia a úlcera de pressão de uma vez por todas, e o tornaria apto a voltar para o centro de reabilitação.

São amigos dele e muitos deles se tornaram amigos meus, também.

Quando ele sofreu o acidente, eu estava grávida de 5 semanas, e perdi o bebê logo no comecinho. Foi um baque, que nós só começamos a digerir muitos meses depois. No começo, eu neguei que queria engravidar de novo e evitei pensar nisso, por medo do desconhecido.

Até que um dia, ele me disse que queria ter filhos. No plural. E começou a conversar sobre possíveis nomes, e a sonhar comigo com nosso bebê, e a pensar em carregá-lo no sling enquanto eu empurrasse a cadeira de rodas e assim, passearíamos os três, juntos. Como uma família qualquer.

Esse sonho foi tomando forma, corpo e, quando descobrimos que era possível, inclusive pelos métodos tradicionais, começamos a pensar “porque não?”.

Com a (re) descoberta da sexualidade, agora sobre rodas, entendemos que é realmente possível ter filhos e mais ainda: que é possível ser um casal completamente normal.

Eu tenho um marido muito foda, mesmo.

E se nada der certo, já temos um plano B, mas esse eu conto na próxima.

[p.s da Lucia Freitas: se você gostou da história, se emocionou, aproveite pra fazer uma visita ao site do Marcos – http://www.marcosalencar.com – e colabore com a campanha para ajudar na sua reabilitação]