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Pela liberdade! Blogagem coletiva pela visibilidade lésbica e bissexual

semana da visibilidade lésbica e bissexual

A gente sabe bem o quanto é delicado falar de sexualidade. Lá no grupo fechado é fácil, há respeito – nem que seja porque quem fala mal o faz fora do nosso ambiente – e pluralidade. Duro mesmo é vir ao mundo, esse lugar cada vez mais chato e repressor, e descobrir que não, você não é aceito.

No caso, estamos falando de lésbicas e transexuais. O True Love convocou e estamos aqui apresentando nossas armas: esta é a 1ª Blogagem coletiva pela visibilidade lésbica e bissexual. Porque, sim, vale tudo.

A palavra lésbica foi cunhada pela poetisa Safo, que nasceu na ilha grega de Lesbos. Alguém precisa de desenho para entender? Aliás, os habitantes da ilha não gostam nadica de nada que as mulheres homossexuais usem seu nome. Em 2008 perderam em juízo um pedido para que as lésbicas fossem só as habitantes da ilha – segundo eles, insultadas pelo uso. [fonte: wikipedia em inglês, claro]

Se ser lésbica já acarreta montanhas de sinônimos – vejam o texto lindo do Jamil Cabral Sierra no Blogueiras Feministas, Levantai-vos todas -, imaginem o que acontece com quem é bissexual. Haja preconceito.

Duas mulheres corajosas já contaram suas histórias aqui no LuluzinhaCamp. E isso não é nada. Duro mesmo é sair da heteronormatividade (o padrão de homem com mulher, em pt_br) e partir para um mundo em que as diferenças são aceitas. Porque só dá pra ser livre se a gente pode ser o que é – sem padrão, sem regra pronta, sem preconceito.

Se a gente assumir que todos são humanos e têm direito de viver a vida como quiserem, o mundo fica bem mais fácil e possível. Vamos praticar, por gentileza?

P.S.: os comentários chulos ou ofensivos a este post não serão aprovados. Porque, né?, bom senso é coisa que anda em muita falta nesse mundo.

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Desabafos sobre os protestos

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Nota da editora: eu tenho orgulho, muito, de ter criado um grupo onde as mulheres podem se expressar de forma sincera e clara. Me emociona testemunhar exemplos de humanidade na minha vida cotidiana. Por isso pedi licença para publicar estes textos aqui. São testemunhos que contam o quanto o Brasil ainda pode mudar, se transformar e ser um lugar melhor para viver. 

Suzana Elvas, Rio de Janeiro

Escrevi esse texto (e já peço desculpas pelo desabafo, porque é isso que ele é) e compartilhei no Facebook por causa de uma coisa que a Lucia postou na TL dela. Eu acompanhei até as 3h da manhã de hoje o que estava acontecendo, literalmente, embaixo da minha janela. Chorei muito, tive medo, filmei bastante, e me lembrei de cenas que eu um dia dissera a mim mesmo nunca mais presenciar.

Por um bom tempo – incluindo quando eu era uma estagiária cheia de bons sentimentos e a caminho do meu Prêmio Esso – eu acompanhei incursões policiais. Não era nem do Rio, mas me oferecia pra qualquer plantão policial que aparecesse. Achava muito emocionante. E o que eu aprendi não foi excitante, nem emocionante. Não foi bonito, não foi construtivo. Eu vi policial derrubar porta de gente que nunca teve nada com o tráfico, e arrastar mulheres pelos cabelos até uma viela, de onde só se ouvia gritos e crianças chorando. Vi descer rapaz morto pelo Bope que estava fumando escondido da mãe na laje, se assustou e tomou um tiro no peito sem nem saber direito o que estava acontecendo.

Vi chamarem de vadia a mãe que perdeu mais um filho num tiroteio – e se soube depois que era um contínuo que o chefe prendera depois do horário pra que ele fizesse serviços pessoais. Ouvi mandarem calar a boca e parar com essa porra. PM’s impacientes com crianças chorando, no meio do fogo cruzado. Ouvi pelo celular a faxineira do lugar onde eu trabalhava avisar, a voz quase inaudível pela balbúrdia de tiros que ecoavam no único banheiro da casa, que ela não ia trabalhar porque não podia sair. Nem sequer tirar dali a única filha, de seis anos, nem o bebê que levava na barriga.

Nunca vi nenhum mídia ninja por perto. Nenhuma mídia alternativa. Das grandes, o que era apurado e escrito em quatro laudas saía – quando saía – num quadradinho com sete linhas, pra tapar buraco na página. Nunca vi, nesses anos todos em que o celular existe e se popularizou, vídeo do YouTube mostrando o domínio do terror que a PM impôs nas comunidades que “não pagam imposto” (e, sim, eles pagam). Nunca vi ninguém gravar o Bope, tarde da noite, ajoelhado nas esquinas da Maré, pronto pra entrar atirando – coisa que eu vi, de dentro do táxi, voltando de uma viagem, enquanto o motorista alcançava quase 180 Km/h e avisava aos outros pelo rádio que “o bicho tá pegando”. Se existem esses vídeos, nunca vi serem compartilhados. Nunca vi receberem centenas de comentários. Nunca vi sendo usados como meio de pressão para disciplinar uma força policial que segue tudo, menos a lei. Efetivo que, se conhece a lei, prefere ignorá-la, com o respaldo de quem dorme à noite sem se preocupar se alguém vai enfiar o pé na sua porta, de madrugada, e arrastar seus filhos pra fora, aos gritos. Porque ninguém vai. Se isso acontecer, com certeza estará em centenas de compartilhamentos no Facebook em questão de horas, com respaldo de inúmeros vídeos no YouTube.

As chacinas de Vigário Geral e da Candelária chocaram (não acredite na gente, leia no site da Anistia Internacional: Anistia Internacional – Chacina de Vigário Geral) . Todo mundo indignou-se – e nada mudou. Não vi página do Facebook dar nome e sobrenome do Jonatha Farias da Silva , o garoto que morreu assassinado na Maré e cuja única voz que se levantou para que ele não ficasse marcado como “elemento que foi baleado ao confrontar a PM com arma na mão” (como consta nos relatórios da Polícia Militar) foi Yvonne Bezerra de Mello, que o ajudou a sobreviver, sem pai nem mãe, como engraxate. Ela não esqueceu os meninos da Candelária, nem as famílias de Vigário Geral. Deve ser a única. Ninguém perguntou – nem a OAB, nem a ABI, nem os Ninjas, nem ninguém: “Onde está o assassino de Jonatha? Onde está o inquérito policial? Onde está a Justiça? Onde está a ordem publica e a garantia de que isso nunca mais vai acontecer?”

Mas eu vi um monte de gente falando do absurdo das balas de borracha. Do absurdo do gás lacrimogêneo que acabou com a roda de chope, com o jantar, com a paz. Do absurdo das vitrines quebradas no pedaço mais rico da cidade. Do absurdo dos garotos brancos, de classe média, universitários, bem alimentados e bem informados, que foram presos por “mostrar a verdade.” Sei nome e sobrenome de todos eles. Bastaram menos que cinco noites de terror para o Rio de Janeiro se levantar contra a truculência da PM. Contra os desmandos do policial que prende mídia ninja porque este lhe virou as costas. Que encurrala mulheres e crianças numa loja e exige documentos. Que percorre as ruas caçando quem esteja nas calçadas.

Troque as balas de borracha por munição real. Troque os bairros da Zona Sul pelas favelas e pela Baixada. Troque a cor da pele das pessoas.

Bem-vindo ao Rio de Janeiro de todos os tempos.

 

Gabriela (@gabriela_arc), Salvador

Bem vindo ao Brasil de todos os tempos. Este é o cenário daqui da Bahia também. Não sou jornalista, mas já testemunhei algumas coisas e passei por outras também e confesso há muito tempo vivemos em estado de sítio. A diferença: Rio, SP aparecem na TV. Morre mais gente em Simões Filho que no Iraque, quando saiu na Exame, saiu em noticiários locais. A violência em Simões Filho, Candeias e outras cidades de interior é terrível. Assim como, a violência na Zona Sul é cruel mas lamentavelmente só aparecem os pontos turísticos.

Felizmente estão acontecendo protestos e principalmente há reportagens internacionais incompatíveis aos principais veículos, para capitanear a mudança que pode vir em outubro. Não podemos nos calar.

Até quando continuaremos a aceitar o medo?!

 

Letícia Massula, São Paulo

Suzana,

Eu quase nunca falo nada aqui, participo pouco (não consigo administrar meu tempo a ponto de poder participar de uma lista assim, me perco sempre…) e por conta disso muitas vezes não acho legítimo nem ler as conversas, mas estou muito perturbada com tudo que vem acontecendo no Rio e li seu texto.

Parabéns. Um alento ver gente que pensa como você. Que vai além e coloca o dedo na ferida.

Coordenei durante 2 anos um centro para familiares de vitimas de homicídio e latrocínio e o que mais me doía – além de assistir cotidianamente a dor de mães que perderam violentamente seus filhos (quase a totalidade pobres de periferia, um numero enorme executados pela polícia) – era assistir a indiferença da sociedade, o descaso, a falta de identificação… Milhares de vezes me afirmaram em tom de pergunta: mas… quem morre em chacina… em geral tem culpa no cartório, não é mesmo?

Doía cada vez que alguém, para legitimar a nossa atuação (apoio as vítimas e familiares), destacava que eram vítimas “inocentes” (aliás, tem expressão mais bizarra que “morte de inocentes”?). Me embrulhava o estômago ver que a maior parte das pessoas pensava exatamente assim…

Eu ficava puta cada vez que me chamavam para mesas de debate para falar “sobre o aumento da violência urbana” quando morria alguém de classe média, voltando da faculdade, de carro, no semáforo… Eu sempre frisava nessas falas que não havia aumento da violência, que ela sempre esteve lá… que morria gente todo dia na periferia (e pensava comigo: de vez em quando a merda chega até nós, e morre um da classe média).

Doía sentir que mesmo entre pessoas relativamente próximas no fundo, no fundo, havia um certo alívio a cada chacina, uma sensação de “que bom que eles se matam entre eles mesmos”, quanto mais se matarem nas margens, melhor… que fiquem lá, nas margens mesmo… que nunca cheguem aqui, ao centro.

Não estou de forma alguma comparando e desqualificando uma morte e outra morte… sofro pelo jovem de classe média que morre no sinaleiro da mesma forma que sofro pelo jovem da favela executado pela polícia (seja ele portador de bons ou maus antecedentes). Para mim cada vez que morre alguém violentamente um pouco da minha humanidade morre junto, porque sempre é um passo a mais rumo ao animal cruel que nos habita.

Nesses dias com tudo que estamos assistindo esse ponto voltou a ficar latente. Observar novamente que a maior parte das pessoas distingue, compara e faz um julgamento moral sobre quem “merece” e quem “não merece” morrer. Que vida e morte continua a ser uma questão meritória na cabeça das pessoas, como se a vida não fosse um direito humano e sim um bônus por bom comportamento.

Acho que foi mais ao menos por aí que um dia eu decidi que não iria mais trabalhar com direitos humanos, para não ter que lidar com isso no cotidiano. Não consigo ter tranquilidade para falar sobre isso, para argumentar de forma civilizada, me toca muito fundo.

Por tudo isso, adorei seu texto, continue expondo as feridas. É necessário. Parabéns.

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Falando de parto: diálogos nada secretos de mulheres e seus partos plurais

Tudo começou com a Gabi Bianco mostrando um vídeo lindo de parto em casa: http://potencialgestante.com.br/video-parto/.

Aí a Ana Carolina mostrou de novo o vídeo da Naoli, que a Letícia já tinha mostrado há muito tempo atrás.

Claro que para a nossa Renata Corrêa falar do parto domiciliar foi um pulo:

Aliás, o que colocou uma pulga atrás da orelha para eu correr atrás de um parto humanizado foi quando eu comecei a ver fotos de partos e pensei: nossa, por que essas minas ficam rindo depois de ter o bebê? Eu sempre imaginei que você ficava acabadaça, de tanto que visitei amigas e parentes pós-cesárea no hospital.

Não que mulheres que passaram por uma cesárea não possam ter experiências boas, eu acredito que todas possam. Mas aqueles sorrisos ficaram gravados na minha mente. O bebê sai e a cara da mulher… Enfim. Algum tempo depois, quando tive a Liz, eu entendi, porque passei por aquilo, o sorriso hormonal, a alegria que te inunda. A gente acha que sentimentos elevados vêm da alma e o corpo se manifesta. O parto é a festa do corpo, o sentimento nasce do corpo e só depois habita a alma. Quando a Liz tava saindo eu falei “nossa, que delícia!”. Sempre achei que ia doer. As mulheres relatam um tal de círculo de fogo, que é quando o bebê passa pelo períneo e arde. Eu não senti. Senti prazer mesmo. Foi a sensação mais incrível da minha vida. Uma experiência corporal e sensorial única.

Bom, depois eu vi as fotos do parto e eu estava lá recebendo minha filha com aquele sorriso calmo, tranquilão. Nem eu lembrava dele, mas ele tava lá. 😉 Em anexo a minha cara #xatiadissima após parir a Liz. rs

 

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Suzana Elvas:

Eu vou falar aqui uma coisa que nunca disse a ninguém: eu sempre me sinto humilhada (sem razão, eu sei) quando leio relatos sobre mães que pariram naturalmente. Eu tive duas cesáreas (a segunda porque meu útero ia se romper e minha filha sentou) e nunca experimentei esse sentimento sublime. Só queria que acabasse, só queria dormir.

E quando leio relatos lindos como esse da Renata eu me sinto tão, mas TÃO diminuída, tão inferior, tão menos que não dá nem pra descrever.

 

Renata: Putz, te abraço muito. Tem coisas na vida que são imprevisíveis, a gente não controla nada nada nada nada…

As suas filhas chegaram para você de uma forma cirúrgica, e daí? Que bom que existe a cirurgia, senão sua filha mais velha estaria órfã, hoje, sem mãe, nem irmã. É um saco a recuperação de cirurgia, sono, dor? É. Mas foi essa tecnologia que permitiu que vocês estivessem aqui, todas juntas.

Eu sou a favor de ressignificar essa experiência, entender onde te dói. Ir fundo, pegar a dor mesmo, olhar na cara dela. Porque parto não define a qualidade de uma mãe. Não define amor. Só define… o próprio parto!

Beijos e abraços mais que apertados, de todo o meu coração.

 

Gabi Butcher: O momento é sempre lindo… Não importa como acontece…

 

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Lanika: Eu lembro que quando eu tava na água tendo a Carmen e sentindo cada parte do meu corpo eu só conseguia sentir que aquilo sim era o certo, que era assim, que era sábio e todo o alívio do mundo desceu sobre mim quando ela saiu. Tudo que sei é que nunca me senti tão… Naturalmente eu, tão no controle, tão centrada. Nem dá pra explicar o quão diferente foi do parto do Gabriel, em que me anestesiaram e eu não conseguia identificar o que estava sentindo, sabe? Eu fui conduzida no parto do Gabriel, o da Carmen foi meu todinho.

Enfim, parto humanizado é a coisa mais linda do mundo inteiro 🙂

 

Lanika pra Suzana: não tem nada de pequeno nos teus partos. Tem que ver issaí, gata :***

 

Suzana para Lanika: Ah, eu sei, Lanika. Minhas filhas vieram do jeito que tinham que vir. Uma com uma cabeça tão grande que não passou pelo buraco da bacia (eu tentei e ela acabou nascendo com um galo na testa) e a outra tava sentadinha com duas voltas do cordão no pescoço.

 

Lanika pra Suzana 2: Su, meu primeiro parto foi normal mas foi tão desumanizado que me anestesiaram sem eu saber, fizeram episiotomia sem eu saber, não me mostraram a cara do meu filho (eu levantei do leito na marra enquanto estava sendo costurada pra poder pelo menos ver a cara dele por 2 segundos enquanto ele era levado pro berçário). Levei anos achando isso normal. Só entendi o quanto tiraram de mim quando a Carmen nasceu. Eu te entendo.

Mas a vida tem seus jeitos e cada cicatriz na alma da gente é de guerra, sabe? É pra gente ficar mais forte pra próxima.

 

Suzana Elvas: Enfim… Mas é aquela coisa, né? Uma experiência que não tem substituto. Não tem igual. E aí vem a onda do parto humanizado, do parto na água, do parto sem anestesia e você toma aquele caldo bonito, e acaba de fundilhos pra cima no meio da praia, todo mundo olhando você estabacada ali e dizendo “Tsc tsc tsc… Cesariana? Pois eu pari lindamente, senti cada centímetro do meu corpo brilhando numa dimensão além da compreensão humana, numa realização materna além do astral.” E você volta o olhar pra sua cicatriz, pras lembranças do seu sentimento de quero dormir, quem é essa criança que me empurram, por que eu não sinto nada por ela e cadê o momento sublime de que tanto falam. Pois foi isso que eu senti, lutando pra respirar porque a peridural subiu até o peito. Queria ir embora, queria parar de vomitar (fiz isso na sala de parto), queria respirar.

 

É uma coisa que eu trabalho há 15 anos, desde que minha filha mais velha nasceu. Quando engravidei pela segunda vez, pensei que tinha ganho uma segunda chance. Aí minha segunda menina cresceu e o meu útero começou a se rasgar. Eu eu tive que fazer cesariana. Esperei até entrar em trabalho de parto, mas nem assim.

 

Eu me sinto muito diminuída. Porque essa é uma experiência que eu, aos 47 anos, dificilmente vou passar nesta vida.

 

Flavia Mello (à beira de um parto no RJ): Aí gente. Morro de medo de parto normal 🙁 to rezando para não entrar em trabalho de parto, meu quadril já não esta agüentando..

🙁

#vergonha

Flavia

[enquanto a gente editava texto, cuidava de detalhes e talz, o Eduardo veio ao mundo]

Doduti: Que lindeza!

O Lucas também veio ao mundo através de uma cesárea e durante muito tempo (até hoje ainda me pego fazendo isso) eu logo que contava que havia sofrido uma cesárea já emendava os motivos, me justificando de que não foi uma cesárea eletiva, com data marcada. Nunca me senti menos mãe por isso, mas sempre senti que faltou um Q no meio de tudo isso.

Errei em não ter feito um plano de parto mais cedo, em não ter discutido cada detalhe do que eu queria com minha médica. A consulta em que eu ia fazer tudo isso estava marcada pro dia que ele resolveu que ia nascer, ainda na 34ª semana de gravidez.

Minha bolsa começou a vazar, mas não estourou de vez. Não entrei em trabalho de parto, não senti contrações, dor, nada… Mas eu estava super fragilizada, desesperada pelo parto ter adiantado e sem meu marido por perto (que só ia chegar do Japão em uma semana). Ele estava sentando e em nenhum momento eu questionei quando às *:00 da manhã marcaram minha cesárea de “emergência” para as 13:00.

Hoje quando paro para pensar, sei que podia ter insistido um pouco mais, mas lembro do meu desespero e sei que não estava preparada pra nada diferente. Brinco que se a médica dissesse que precisaria abrir meu crânio pra tirar o bebê por lá, eu aceitaria. Se tudo acontecesse hoje, eu provavelmente não teria coragem de encarar uma cesárea com um bebê pélvico e morrendo de medo por ser prematuro, mesmo tendo todo conhecimento que adquiri, imagino que não teria coragem de falar mais alto… mas brigaria pra não ser amarrada, pra poder amamentá-lo logo de cara, pra ninguém ficar esmagando minha barriga como se quisesse usar o fim da pasta de dente…

 

Choro cada vez que vejo um vídeo como esse. choro pela lindeza, pela emoção. Mas choro ainda pelo parto que eu poderia ter tido. Sei que estou errada, mas ainda estamos trabalhando =)

 

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Renata pra Flavia: Mas Flávia, trabalho de parto dura umas 10 horas no barato, muito raro casos que a mãe oops, entra em trabalho de parto e a PM, os bombeiros ou o taxista tem que fazer o parto. Você não vai ter seu bebê em qualquer lugar, relaxa. é até melhor você entrar em trabalho de parto porque isso mostra que o bebê está maduro para sair e o início do trabalho de parto não dói nada mesmo… só vai doer lá pros 5, 6 centímetros e isso pode demorar uma VIDA. (o meu tp da primeira contração até a liz nascer foram 26 horas)

 

Lu Freitas pra Flavia: olha, Flavia, a Renata já disse tudo, e vou te contar uma coisa, aprendida em 4 anos de redação de revista de grávida: primeiro trabalho de parto é NORMAL durar 36 horas.

entendeu? 36!!!

O que acontece, aqui do ponto de vista de observadora, é que a gente tem várias lutas pra vencer nesta hora:

1. contra o sistema que prefere a porra da cesárea, porque é mais rápida (é mais fácil pro médico também, mas não é o melhor procê, em geral)

2. contra si mesma/própria, porque passamos a vida inteira ouvindo que parto dói, que alarga, que blablabla whiskas sachê… E não confiamos, de jeito nenhum, naquele “cachorro” que chamamos de corpo…

E daí decorrem muitas outras coisas. Trabalho de parto (e trazer crianças ao mundo) é para fortes. E isso, Flavia, você já é. Porque coragem e consciência para trazer um ser humano ao mundo em que vivemos não é pra qualquer uma, não!

Força aí, fia, que tudo sempre dá certo – parto não é doença, apesar do que os médicos nos tentam impingir a todo custo.

 

Renata Correa: Loura e maquiada segurando o rebento. Lembrei da novela Salve Jorge que a menina fugiu para parir numa caverna na turquia e tava escovada com cachos depois que o bebê saiu! 😀

 

Renata para Flavia: não tenha medo. Salvo raríssimas exceções seu corpo foi feito pra isso. E ninguém precisa recusar a analgesia e parir em casa. Existem partos humanizados muito lindos com anestesia. Aliás pra toda grávida eu recomendo o livro “Parto com Amor”. Aliás, a história por trás desse livro é maravilhosa – só para vocês terem uma ideia de como nosso mercado editorial é careta e nós todos somos uma sociedade moralista o livro se chamava desde de seu projeto “parto com prazer”, mas a editora sugeriu gentilmente que parto com prazer daria xabu e sugeriu parto com amor.

 

Esse livro tem fotografias de partos: hospitalares, domiciliares, a seco, na banheira, fotos liiiiiiindas e descrição de todos os procedimentos, dá uma super tranquilizada, desmitifica, tem evidência científica em poucas linhas pra leigos mesmo. O projeto gráfico é lindo e a informação é de qualidade.

 

Achei no buscapé por R$ 37 dinheiros: http://compare.buscape.com.br/parto-com-amor-luciana-benatti-marcelo-min-8578881052.html#precos

 

Lanika: Flávia, é normal ter medo do parto normal do primeiro filho. Mas, olha… Da minha primeira contração (que foi “ih, uma contração”) até o Gabriel nascer foram 18 horas. Nesse meio tempo eu virei pro lado e dormi (eram 23h), acordei, tomei café, esperei um tempo, aí 8 da manhã informei minha família que tava em TP e fui pro hospital e fiquei de saco cheio de ficar lá o dia inteiro até que a dor começou a ficar forte lá pro meio da tarde quando foi chegando a hora dele nascer.

Não vou mentir. CLARO QUE DÓI nas horas finais. Mas pra mim foi pior com anestesia porque no parto humanizado eu tive como direcionar aquela dor pra expulsão e com a anestesia eu não sabia a hora de empurrar ou relaxar e me senti completamente confusa.

E é muito importante lembrar: dói, mas na hora em que o bebê nasce a carga hormonal que você recebe lava a dor todinha. É o maior alívio do planeta, proporcional à força que tu fez antes. Não é uma dor sem recompensa.

Eu não conheço uma grávida sequer que não tenha medo da dor do parto, que não queira voltar atrás, que não pense “o que eu tô fazendo, onde eu fui me enfiar?” e é absolutamente normal. Quem disser que não tem medo tá escondendo o jogo. Pelo menos uma vez lá com a cabeça de madrugada no travesseiro todo mundo tem medo, seja o primeiro ou décimo filho.

 

Renata: o Ric Jones, um obstetra humanizado de Porto Alegre (saibam mais aqui: http://vilamamifera.com/mulheresempoderadas/perfil-ricardo-jones-um-obstetra-humanizado/) fala que parto é tão assustador pois congrega os dois maiores temores da humanidade: a mortalidade e a sexualidade. Juntou essas duas coisas ficamos apavorados, queremos fazer de tudo para controlar algo que a priori não precisa de controle e funciona muito melhor se não for controlado mesmo.

 

Manu Mitre: O livro que a Renata falou (Parto com Amor) mudou minha vida. Eu sempre achei que parto normal era o óbvio, mas uma amiga viu que eu estava pra cair na armadilha dos médicos-bonzinhos-que-acabam-fazendo-só-cesárea e me deu o livro de presente. Tive certeza de que eu queria um parto não somente normal, mas do meu jeito, com respeito, com autonomia e liberdade. Sem rótulos, sem protocolos, sem procedimentos padrão, mas algo único, assim como eu sou, como meu parto e minha filha seriam. Tudo do jeito que faria sentido pura e exclusivamente para aquela situação.

Estudei muito, muito, mesmo. Não queria cair em uma lavagem cerebral inconsequente, queria fazer escolhas conscientes e com base na razão. Procurei evidências científicas que me ajudaram a tomar e manter decisões difíceis – tipo a de não ser anestesiada. E conversei com muitas mulheres, de longe a maior fonte de motivação, a melhor forma de descobrir como canalizar os medos e espantar os fantasmas que nossa cultura enfiou nas nossas cabeças.

E por causa da importância de toda essa ajuda que recebi, me sinto em dívida eterna com as mulheres que querem um parto normal. Antes aprendíamos tudo com a tia parteira ou com a avó que teve 9 filhos em casa, com as tantas mulheres que passaram pela experiência de ter um filho naturalmente. Quantas podem falar disso hoje em dia? Se eu posso, me sinto nesse dever. Sou disponível, ensino o que sei, indico gente em que confio, mostro alternativas que façam sentido para cada mulher. Respeito as que preferem outro tipo de experiência (ou que realmente precisam de uma intervenção cirúrgica) porque também aprendi que o mellhor parto é aquele que cada mulher não somente quer, mas pode ter.

E aqui meu relato de parto, algo que me faz soluçar de chorar até hoje, 1 ano e 8 meses depois, já com outro bebê na barriga:
http://casamoara.com.br/meu-mundo-minha-dor-meus-limites-um-parto-do-meu-jeito/

 

As indicações reais de cesárea

No post foram citados alguns casos onde a cesárea foi indicada pelo médico.

Bebê que não passa pela bacia – o nome disso é Desproporção Céfalo-Pélvica. É uma complicação rara e só pode ser identificada no trabalho de parto ativo depois que a mãe já alcançou a dilatação total. Não existe diagnóstico de desproporção antes do trabalho de parto, usando o tamanho do bebê como justificativa. A desproporção céfalo-pélvica é uma intercorrência multifatorial e tem muito mais a ver com a posição distócica de encaixe do bebê do que com o tamanho dele em si.

Útero rasgando – a ruptura uterina é uma intercorrência raríssima. O risco de ruptura uterina é 0,2% maior em mulheres que tiveram uma cesárea anterior, mas ainda assim maior fator de risco é a má formação uterina. Só é possível identificar uma ruptura uterina em trabalho de parto, não é possível diagnosticar que o útero está se rompendo antes do trabalho de parto começar pois são as contrações que contribuem para ruptura. Aumenta consideravelmente o risco de ruptura o uso abusivo e inadequado de ocitocina sintética intraparto (o famoso “sorinho”), então a melhor prevenção para ruptura é que o parto aconteça com o menor número de intervenções possíveis.

Não dilatarnão existem mulheres que não dilatam. Toda mulher dilata, algumas levam mais tempo, outras menos. Quando o trabalho de parto ativo para de progredir o médico avalia a mulher e pode intervir com aplicação de anestesia ou rompimento da bolsa, para que o trabalho de parto normal continue.

Ruptura da bolsa sem sinal de trabalho de parto: é recomendado repouso, hiperhidratação e monitoramento cardíaco do bebê e esperar o trabalho de parto começar naturalmente. Geralmente o trabalho de parto começa em até 24h depois da bolsa ter se rompido, mas a literatura médica já relatou casos de sete dias. O líquido amniótico é produzido constantemente pelo corpo, o bebê não fica “seco” dentro do útero.

Bebê Sentado – É o famoso bebê pélvico. pode ser indicação de cesárea ou não. Existem poucos médicos que acompanham partos normais de bebês sentados. Com acompanhamento correto é um parto normal seguro. Porém a cesárea também é uma conduta indicada.

Fonte: Indicações reais de cesárea (com evidências): http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html

Slide Share do Projeto Diretrizes da Febrasgo: http://www.slideshare.net/priscilacaixeta1/febrasgo-cesareana-indicao

Indicações reais e fictícias: http://renatacorrea.com.br/listados9/quando-uma-cesarea-e-uma-cirurgia-realmente-necessaria/

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Segunda RodAda Hacker reúne mulheres para aprender a programar

Dani B. Silva, criadora da RodAda Hacker, foto: Pedro Belasco

Numa sociedade em que as meninas são presenteadas com panelinhas e bonecas e os meninos ganham carrinhos e super-heróis não é de se estranhar que as mulheres não apareçam em alguns fazeres. Isso acontece muito com especialidades ligadas a exatas, como é o caso de programação, ambiente geralmente masculino.

Foi por conta dessa escassez de mulheres na sua área que Daniela Silva, cofundadora da Transparência Hacker, decidiu criar a RodAda Hacker, uma oficina de programação para web para o público feminino. “A ideia é ter mais meninas e mulheres atuando não apenas como usuárias, mas como construtoras de projetos na web”, explica Daniela. A segunda edição do encontro acontece em São Paulo, no próximo dia 27/07 das 9h às 19h. As inscrições podem ser feitas aqui.

Em maio aconteceu a primeira RodAda Hacker, com presença de algumas de nós (Lanika e Francine Emília estiveram por lá e trouxeram várias mulheres para o nosso grupo).O nome é uma referência à mais antiga programadora do sexo feminino que ficou conhecida na história, Ada Lovelace.

Os monitores dividem as participantes por interesse e, durante as 10 horas seguintes (com tempo para almoço e intervalos), mergulham nos mais variados projetos para web como aplicativos, sites e games. “Cada um escolhe o seu projeto, pois tudo fica mais fácil quando se tem um objetivo real”, diz Daniela. “Não é garantido que todas saiam com seus projetos finalizados, afinal é apenas um dia, mas com certeza podemos proporcionar um grande avanço no aprendizado e possivelmente um estímulo para que elas continuem evoluindo”.

Várias participantes do LuluzinhaCamp estarão neste próximo evento. Vem com a gente!

Serviço:

Segunda RodAda Hacker SP

Dia 27/07 das 9h às 19h

Preço da oficina: R$85,00

Necessidades: levar computador com acesso à rede wireless

Não é preciso ter conhecimentos prévios em programação

Incrições: http://rodadahacker.com/inscricoes/

Foto: Pedro Belasco, Flickr, em CC-BY-SA

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Ações e Campanhas

Blogagem coletiva pela democracia

São Paulo, 20 de junho, Andre Mello

A democracia faliu, mas ainda é só o que temos. Em meio às manifestações que tomaram as ruas durante as últimas semanas, surgiram, claro, as vozes golpistas. Sem partidos, representantes ou sistema, a gente volta pra ditadura. Podem acreditar: não é bacana (e eu só vivi o finalzinho).

Então, a Renata Corrêa teve a ideia e a gente está puxando o cordão: blogagem coletiva pela democracia. No dia 24 de junho, nós, habitantes da internet, fazedorxs de redes, construtorxs do futuro vamos, sim, escrever pela democracia.

Expresse o que pensa, diga onde falha, faça manual, pesquisa, lista…

Vale tudo!

Vem com a gente!

Como participar: 

  • Link este post
  • Use nosso selinho (estará disponível aqui até hoje à noite)
  • Publicaremos um update com a lista de posts aqui mesmo.

Tamos juntxs #LuluzinhaCamp #BlogueirasFeministas #FemMaterna

Foto: Andre Mello, selinho da campanha (só à noite) Juliana Garcia Sales

 Update: