foto: Rodrigo Basaure, CC
Assim como o post anterior, este artigo foi escrito pela Natane, também a pedidos, exclusivamente para o LuluzinhaCamp.
Coragem. Eu não sei direito o motivo, mas sempre que ouço alguém falando coragem, vejo uma espada nas mãos e alguém correndo por um campo rumo à morte. Nunca consegui associar direito coragem a atos cotidianos, a dizer em público minha verdade, a espalhar por aí o que, para mim, é óbvio.
Mas já ouvi muita gente me apontando como alguém “corajoso”. Sou corajosa porque contei em um vídeo que tenho relacionamentos com mulheres? Sou corajosa porque converso sobre isso com a minha mãe, com a minha chefe, com colega que acabei de conhecer?
Sou corajosa porque mergulhei em um mundo totalmente diferente do qual me apresentaram? Ou sou corajosa porque deixei esse mundo um pouco de lado para voltar ao primeiro?
Isso não é coragem. Isso é respeito. Respeito por mim. Respeito pelo que eu amo, pelo que me dá tesão. Respeito pelos meus desejos, pela minha vontade de estar onde eu quero estar. De olhar no espelho e ver o que eu quero ver.
E, pra mim, dizer que eu sou bissexual hoje é isso. E só uma forma que eu encontrei de me respeitar. E, me respeitando, dizer, mesmo sem palavras, que eu não tenho fronteiras. Que eu não quero ter fronteiras. Que eu não preciso delas.
Não é que eu não queira fazer parte de nada. Eu quero é fazer parte de tudo. Eu não quero definir para não criar paredes. Eu não quero escolher porque mudo o tempo inteiro, todos os dias. E acho que tudo bem mudar.
E acho que tudo bem todo mundo mudar. E tudo bem também em ficar onde você está, se é ali que você quer estar.
Claro que nem sempre é isso que acontece, mas gosto de acreditar que o mundo perde qualquer discussão comigo simplesmente porque eu não preciso discutir. Porque universos gay, hétero, homens, mulheres moram numa mesma casinha por aqui. Daquelas sem paredes.
Isso não é coragem. Eu poderia terminar aqui e dizer que é amor. Mas não sei. É porque é. E tudo bem que seja assim.
Sou paulista, 26 anos, jornalista, social media e escritora. Publico meus textos no Vício da Petulância. Os outros contatos estão no about.me
Alerta: este artigo foi proposto pela Joana Coccarelli ao LuluzinhaCamp. Conversamos e decidimos que esta polêmica vale a pena. Use os comentários com todo o respeito, ok?
Virar mãe é ingressar na bolha do não dito. Goste a mulher ou não da experiência da gravidez, ela certamente viverá uma montanha (barriga?) de sensações que não se expressam em palavras. Nasce o bebê e lá se vão mais de dois anos até que ele comece a verbalizar-se de forma inteligível. Virar mãe é o esforço – às vezes, um simples dom – de operar com base em climas e tentativas. “Acho que é isso”, “É isso!”, “Não, não é”, “Vou tentar de novo”.
A via mais cruel dessa realidade é a da expectativa social, sempre tácita mas agressivamente vigilante e coerciva, principalmente em relação às mães que se reservam o direito de recusar a cartilha de especialistas e outras mães para “achar que é isso”, “tentar de novo” e, também, pensar nela própria. O senso comum, inconscientemente arraigado em todas as boas pessoas que nos cercam, repousa sobre a suposição freudiana da essência masoquista comum a toda mulher. Todos, em particular a grande maioria de mães, espera que novas mães enfrentem de bom grado e sem maiores choques os sacrifícios da maternidade. Na verdade, quanto mais sacrifício, melhor a mãe, e mais sortuda a criança. Não se adaptar às noites em claro, negociar anestesia durante o parto normal (ou mesmo eleger a cesariana de antemão), abrir mão do aleitamento ao seio e outros hábitos menores, como apelar para chupeta, contratar babá e preferir fraldas descartáveis às de pano são práticas hoje recebidas com reticências, narizes torcidos e sobrancelhas em pé em todos os círculos e níveis sociais – condenações veladas capazes de causar enorme insegurança às mães, principalmente as de primeira viagem.
Na contramão de um mundo cuja ordem do dia é a diversidade, vivemos a homogenia da maternidade naturalista, verde, de “volta às origens”, onde alternativas artificiais adotadas pela própria mãe para melhor se adaptar à estafante vida com o bebê são pessimamente vistas. O endeusamento de práticas como o parto normal à sangue frio (na Europa, a febre do parto em casa), amamentação exclusiva no peito, papinhas unicamente feitas em casa, cama compartilhada com os pais, horror a artifícios como chupetas e mamadeiras e a ressurreição das fraldas de pano levou a mãe do século XXI de volta para as cavernas, ignorando completamente o imenso choque que é passar de um ser humano autônomo para uma realidade Flinstones já no trabalho de parto. A transição de mulher para mãe sempre é pesada, mas não deveria ser esse pedregulho todo. Dizem que o compromisso é para com o bem-estar do bebê, mas se esquecem que a mãe continua sendo parte integrante do ser bebê por muitos meses, e seu mínimo bem-estar constitui em grande parte o do filho.
O inegável sexismo que acompanha o dogma naturalista fica ainda mais evidente quando mães em tempo integral se constrangem ao saber que outra mulher pretende, sim, voltar a trabalhar fora de casa. Ela não se constrange por ela própria dedicar indefinidamente todo seu tempo ao próprio filho (e a cozinhar papinhas, lavar centenas de fraldas de pano, etc), mas pela outra mãe, deixando subentendido que um tipo de abandono ou negligência está para acontecer. “O filho é visto como se não fosse um ser social ligado também ao pai, aos outros membros da família e da sociedade”, escreveu a filósofa Marcia Tiburi sobre o assunto.
É mais que evidente que há mulheres que se identificam genuinamente com tais métodos de maternidade; há nelas uma espécie de compreensão e complacência para com a dor e com a priorização da criança acima de qualquer coisa (mesmo que possivelmente a despeito dela própria e, conseqüentemente, de seu parceiro e vida profissional). O problema não é este. Existe todo tipo de gente, com todo tipo de preferência no mundo. O problema é a predominância brutal desse pequeno grupo sobre uma maioria esmagadora de mulheres que simplesmente não se encaixa nele. De modo que muitas delas o seguirão sob enorme risco de esvaziar o vínculo com o filho, já que não se sentem livres para buscar com ele um meio termo (uma mãe tranqüila é sinônimo de filho tranqüilo, já que houve separação de corpos mas não de afetos); muitas outras não agüentarão a barra mas mentirão, evitando a desaprovação geral; algumas chegarão a questionar a qualidade de seus sentimentos pela criança, uma vez que não fazem “nada certo”; e outras, como eu, serão vistas como mães rebeldes e insistirão que o método está sendo supervalorizado em detrimento do afeto; que o amor não está no mamilo de onde sai o leite, mas no coração que fica logo ali atrás, desmistificando a amamentação como única forma de criar vínculos afetivos “inestimáveis”. Forma não é afeto, embora possa vir a ser. Forma é essencialmente forma.
A noção absurda de que a mulher está inexoravelmente predestinada ao sofrimento está se confundindo com a idéia perigosa de “necessidade de sofrimento para a afirmação do ser mulher” – algo imoral no pós-feminismo. Sugiro que as militantes do parto em casa/ normal sem anestesia se alinhem completamente à ideologia passando a negar, também, medicamentos que aliviam cólicas, enxaquecas ou cirurgias invasivas mais sérias. Por que a dor é exclusividade da maternidade?
Temo que a tirania naturalista da maternidade esteja achatando uma das experiências mais multidimensionais que mães e filhos podem criar juntos. Dores excruciantes e sacrifícios sem limites estão roubando um espaço que também poderia conter muitos afetos únicos e contemplação de significados afirmativos – sem contar com a identidade da mulher que, passada a primeira infância do bebê, poderá revelar-se muito mais preciosa do que ela julgava quando dedicava-se ao filho e ao filho apenas.
Filho que, ao usufruir de práticas e atenções massivas e ininterruptas, corre grande risco de se tornar um pequeno egoísta, míni troglodita, Bambam e Pedrita do novo milênio, e não uma criança de fato mais saudável, adaptável, confiante e potencialmente feliz. Não seria essa a mais lamentável ironia da “maternidade volta às origens”?
Artigo escrito por Joana Coccarelli, carioca, jornalista, casada, mãe, 34 anos. formada em comunicação social com mba em marketing. colaboradora de inúmeros sites de cultura, comportamento e arte do eixo rio – s. paulo – recife, com destaque para os extintos mood (i-best), zuvuya, cabezamarginal e o ativo revistaogrito; e blogueira desde 2002. artista plástica com foco em colagens, tendo participado de exposições e publicações impressas.
Você já conhece o Blogueiras Feministas? Deveria. É com enorme orgulho que apresento este blog, fruto da reunião de algumas das muitas mulheres bacanas que estão à solta nesta internet. Um blog realmente coletivo, onde você tem acesso a uma sinfonia, feita sob medida para a gente experimentar o que é ser feminista a esta altura do campeonato.
As vozes, ah, as vozes. Liberdade e igualdade – pode ser? E o olho ilumina com a inteligência da mulherada, que segura e instiga discussões, sem medo de ser feliz. E pra quem acha que feminismo é palavrão: prestenção! A galera tem um grupo de discussão – tão ou mais movimentado que o nosso – e compartilha conteúdo com a tranqüilidade e a leveza que a vida pede. E nunca deixa assunto sério passar batido.
E ainda tem os vídeos bacanas da Nessa, uma das grandes revelações 2010/2011 – junto com uma galera bacana que também está lá. Antes de torcer o seu nariz, confira.
Tudo começou porque a Renata Correa vai mudar de casa e ofereceu um item na nossa lista de discussão. A mulherada mais conhecedora da internet brasileira não poupou esforços e compartilhou todo o seu conhecimento em decoração. Para não deixar este conhecimento fechado na lista, que vire post.
De(couer)ração – usei várias dicas dali, tipo fazer a cabeceira da minha cama box (eu usei um colchão de solteiro com capas feitas pela minha sogra santa salve salve) ficou bem legal, barato e diferente. Dica da Tatiana Anzolin Michels, que também indica o Apartment Therapy, o vício dela…
A Joana Dambrós, lindona, mandou o Design Sponge (também é um dos meus faves em decoração, que conheço desde que era no blogspot…) e o Casa da Chris, da Chris Campos – que só não é do grupo porque é famosa 😛
E, claro, nossa arteira Lanika indica o Vila do Artesão para quem, como a Denise Rangel, adora um faça você mesmo e também o Instructables, site sensacional de quem adora a independência e o poder de fazer com as próprias mãos…
Organizado pelo IED São Paulo, o ModaCamp vai acontecer em São Paulo nos dias 14 e 15 de abril, das 15h às 20h. Não é um Camp como a gente está acostumada a ver e fazer, mas parece que vai ser bacana. Eles passaram um bom tempo na seleção de blogueiros, profissionais e jornalistas de moda que farão suas apresentações em 15 minutos – todas seguidas de debates. O tema é “Que moda a internet favorece?” e será discutido através de quatro tópicos:
A comunicação no mundo da moda
Moda e Business
Os avanços da tecnologia têxtil
Tendências
A escalação já tem 11 escolhidos, entre eles a queridona Bia Perotti e a dupla Cristina Zanetti e Fernanda Resende, do Oficina de Estilo.