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A Marcha das Vadias

Tudo começou em Toronto, Canadá. Um policial dava uma palestra sobre segurança no campus de uma universidade, em determinado momento afirmou que as estudantes devem evitar se vestir como vagabundas para não serem vítimas de assédio sexual ou estupro. A partir daí mulheres em Toronto, e em vários outros países, começaram a marchar pelo direito de serem donas de seus próprios corpos em eventos que receberam o nome de Slutwalk.

We are tired of being oppressed by slut-shaming; of being judged by our sexuality and feeling unsafe as a result. Being in charge of our sexual lives should not mean that we are opening ourselves to an expectation of violence, regardless if we participate in sex for pleasure or work. No one should equate enjoying sex with attracting sexual assault. Site oficial da SlutWalk Toronto

Há muitas discussões em torno do assunto. Há quem considere que tentar ressignificar a palavra “vadia” ou “vagabunda” não vai funcionar, pois no Brasil ela é usada especialmente para criticar a liberdade sexual das mulheres. Porém, todas já fomos chamadas de vadias e vagabundas em algum momento, quando ousamos ser quem somos, fazer o que desejamos. Essa palavra está marcada em nossas histórias pessoais e até mesmo nas novelas.

Slutwalk em Boston. Foto de Nina Mashurova no Flickr, em CC.
Slutwalk em Boston. Foto de Nina Mashurova no Flickr, em CC.

Mas, o principal é: nada justifica um ato de violência sexual. Nenhuma mulher é estuprável. E é contra isso que precisamos lutar. É triste abrir matérias de jornal sobre a Slutwalk e ler coisas como: “A principal atração da marcha são as roupas provocantes, que fazem uma alusão ao estereótipo da prostituta“. Nossas roupas não são a principal atração, não são só mulheres vestidas como vagabundas que são estupradas. Não é nem obrigatório ir com “roupa de vagabunda” à manifestação. O objetivo da Marcha é questionar o controle que existe sobre o corpo das mulheres e sobre nossa sexualidade. E, principalmente, questionar o fato de que as mulheres são culpadas por serem estupradas. Vivemos numa sociedade que nos ensina “não seja estuprada”, ao invés de “não estupre”. É isso que precisamos mudar.

Marchando com outras vadias ou não, o importante é repensar nossos paradigmas. Pensar em quantos homens podem andar sem camisa na rua, sem serem assediados. Em quantas mulheres foram violentadas sexualmente porque estavam bêbadas e foram culpadas por isso. Portanto, não chame a coleguinha de puta, não culpe apenas as mulheres nos casos de adultério, não acredite no discurso que nos condena a viver na dicotomia puta x santa. Somos várias e vamos muito além de fórmulas e estereótipos.

A Slutwalk terá sua primeira edição no Brasil neste fim de semana em São Paulo. Dia 04/06, mulheres e homens se reunirão na Av. Paulista, na Praça do Ciclista – entre a Consolação e a Rebouças – a partir das 14h. Deixo por fim alguns textos sobre o assunto que abrem ótimas discussões e nos fazem pensar sobre o machismo diário que nos veste com uma burca invisível.

[+] Por que ir à Slutwalk. A Marjorie Rodrigues explica porque você deve ir e quais são as principais posições contrárias.

[+] SlutWalk: marcha das vagabundas e o feminismo-gracinha. A Jeanne Callegari discute machismo, feminismo e a questão da prostituição dentro da ressignificações da Slutwalk.

[+] Slutwalk – A Marcha das Vadias. Nesse texto faço um panorama com diversas opiniões a favor e contra a Slutwalk.

11 respostas em “A Marcha das Vadias”

Acho essa discussão muito importante e gostaria de contribuir, como psicologo e cidadão, com um texto que produzi. ATT Marco Tulio Peixoto

A atração, o sensual e o respeito

A sociedade ocidental cartesiana, positivista, tem muita dificuldade quando o assunto ou o conceito não pode ser apenas divido entre certo/errado, preto ou branco ou masculino e feminino. Ou é uma coisa ou é outra, assim discute ela. Ou é positivo ou é negativo. Ou quer ou não quer. Ou é dia ou é noite. Ou é claro ou é escuro. O sol da meia noite, a penumbra, o sim e não, não cabem em uma concepção de vida linear, exclusivista e noosologista (classificadora) como é nossa sociedade e nossa ciência. Os orientais deste os primórdios já dividiam a energia em dois pólos (Yin e Yam), mas diziam que dentro da Yin existia o Yan e dentro do Yan existia o Yin.
Quando tentamos definir ou um ou outro perdemos a compreensão da totalidade e pior, começamos a criar intolerância e ignorância, sendo um subproduto do outro.
Quando vamos discutir sexualidade essa limitação e dualidade maniqueísta, se tornam ainda mais limitadores e criadores de intolerancia.
Mas quando vamos discutir a sensualidade essa situação se torna ainda mais critica, produzindo antagonismos e preconceitos.
Quando um policial sugere que a mulher sensual agredida é a “culpada”pela violência e pela falta mínima de respeito ao individuo em sua liberdade, vai para um canto de ringue em sua percepção absurda causada por sua visão obtusa.
Mas quando as mulheres indignadas, com justa razão, vão para o outro canto do ringue e negam que a sensualidade transmite mensagens e provocações que trazem para o macho sua ancestralidade animal, também não contribuem para a discussão de que, apesar de conter algo erótico atrativo e instintivo, não pode nos transformar em animais.
Onde estão as fronteiras?
Onde alguém pode ou não pode ultrapassar?
Se negamos que existe atração, provocação, erotismo e sensualidade no vestir, no andar, no maquiar no olhar da mulher e do homem, como vamos então discutir os limites e o respeito e a integridade do outro?
Os limites são muito tênues e permeáveis e sem uma sinceridade profunda, madura e responsável, vamos lançar esse assunto ao embate ridículo dos extremos, onde um lado desconsidera o outro e empobrece uma visão ampla e multifacetada desse assunto, nós afastando da verdade e de soluções justas e pluralistas.
Sim, uma roupa é provocante, insinuante e convidativa para os machos e isso acontece em todas as espécies.
Não, não pode considerar essa provocação um convite a violação!
Mas talvez, talvez, precisemos repensar sim se podemos em todo lugar ou em determinadas situações, exibir certos códigos provocativos.
Ou agora vamos negar que existe um jogo de provocação e sensualidade que desperta os instintos mais básicos em qualquer espécie e também?
É essa negativa e falácia de tratarmos o assunto como se não existisse vários componentes, que leva algumas pessoas a perder a percepção do que esta provocando no outro e acaba autorizando, dentro da percepção errada de alguns, a invadir as fronteiras da integridade. Não podemos também trazer essa percepção acoplada ao moralismo e o julgamento machista da sociedade masculina.
O enriquecimento do debate tem que passar pelo reconhecimento dos elementos envolvidos, sem julgamentos, e a nomeação, apenas nomeação de comportamentos, reações e sensações.
Negar os códigos sensuais, acaba servindo a aqueles que querem usa-lo para justificar e autorizar e dar vazão instintos básicos, uma vez nega-los, também afasta da verdade. Essa é uma discussão profunda e ancestral, que quando cai para o antagonismo e para a emocionalidade não traz esclarecimento e maturação, mas embates e mais preconceitos, mesmo quando revestidos de estofamento jurídico.

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