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5 mitos sobre a legalização do Aborto

Embora seja um assunto para lá de delicado e com argumentos válidos para todos os lados existem várias afirmações contra a legalização do aborto que eu gostaria de comentar: são os pensamentos dogmáticos à respeito do assunto. Um dogma não precisa estar necessariamente ligado à uma religião, e sim à uma ideia que é difundida sem aprofundamento.

A legalização do aborto é, antes de mais nada, uma questão de saúde pública. Essa é a parte que não se discute pois é baseada em fatos e dados – independente de nossas crenças pessoais à respeito do aborto, estamos falando da descriminalização e da legalização pelo bem da saúde das cidadãs. O assunto é também uma questão de direitos da mulher. Essa parte se discute – afinal vivemos em uma sociedade ainda machista, patriarcal e, principalmente, hipócrita.

Fiz uma rápida busca no Search do Twitter para captar alguns desses dogmas e “ilustrar” alguns mitos. Vamos a eles:

1. Se legalizarmos o aborto iremos viver uma carnificina

Tweet – “ñ podemos liberar o aborto a Bel Prazer,deve existir regras,senão vira carnificina”

Não é à toa que essa frase sai na maioria das vezes da boca dos homens: eles não sabem que o aborto não é e nunca será usado como método contraceptivo. Mulheres que já realizaram ou que conhecem quem já realizou um aborto sabem muito bem que fazer isso é traumatizante e dolorido (de corpo e alma.) E nenhuma mulher quer passar por isso “a Bel Prazer.” O aborto só é realizado pois o trauma e a dor de manter uma gravidez/maternindade indesejada é ainda maior.

A legalização do aborto não irá fazer com que o aborto vire rotina na vida da mulher: somente irá fazer com que os abortos que já acontecem na ilegalidade passem a acontecer com mais segurança. Só diz que a legalização do aborto resulta em carnificina quem não tem o menor conhecimento de causa.

2. Legalizar o aborto é ir contra os direitos do feto

Tweet – “Fulana falou que a criminalização do aborto eh uma violência CONTRA A MULHER! #louca”

Cynthia Semíramis resumiu bem esse dogma neste post, de onde tiro a citação:

“Ao fazer isso [afirmar que o aborto é uma violência contra o feto], estão invertendo a ordem de prioridades: colocam um não-nascido como tendo prevalência sobre uma pessoa viva, como se a mulher tivesse menos direitos que ele.”

A criminalização do aborto é sim uma violência contra a mulher!

A violência indireta é permitir uma gravidez não planejada, uma família sem estrutura e um futuro incerto tanto para a mulher quanto toda sua família. A violência direta é realizar o aborto de forma clandestina e ter como resultado a morte.

3. Eu sou contra, então não é correto legalizar

Tweet – “aborto sou contra, E MUITO! quem faz isso tem que morrer, serio!” [contraditório, não?]

Se sua religião ou moral próprias não julgam ser correto realizar um aborto a solução é simples: não realize um! Querer que a sociedade inteira acate é imposição ao todo de uma opinião pessoal.

Estamos tratando de Políticas Públicas que vão muito além da situação de um indivíduo. Estamos falando da saúde e do funcionamento social de toda uma população. Se você acha errado, não faça.

4. Minha religião não permite

Tweet – “Como que alguém que se diz cristã afirma que “aborto” é problema de saúde pública?”

Embora pareça em algumas passagens não estou aqui para atacar nenhuma religião. Inclusive não tenho nada contra nenhuma delas! O problema é querer que todo um país siga as suas crenças. Lembre-se: o estado é laico e sua função é proteger seus cidadãos. A legalização do aborto está aí para isso: proteger as cidadãs. A sua crença não pode interfirir no direito de outros indivíduos.

Mais uma vez: quem não quer fazer, não faz. Se o aborto é proibido na sua religião, não o faça.

5. Temos outras coisas para nos preocuparmos

Tweet – “Eu acho que tem coisas muito mais importantes a se debater do que legalização do aborto hein? Coisas mais básicas, tipo educação, segurança.”

A questão do aborto é sim prioridade. A consequência de abortos mal realizados é a morte. Você sabia que abortos mal realizados são o terceiro motivo de morte entre mães no nosso país? Será que realmente não é uma prioridade?

Mas a legalização do aborto também tem tudo a ver com todas as outras esferas e prioridades da sociedade.

Pense em uma mulher pobre. Por ser pobre ela já faz parte do problema educação, tanto por não poder ter educação de qualidade quanto por não poder oferecer isso à sua família. E a segurança? Precisamos de segurança pois existe violência. E a violência vem de uma sociedade com indivíduos pobres que não têm outra opção além de viver com a violência. Crianças que nasceram em uma família sem condições de oferecer-lhe uma vida digna e por isso recorrem à violência, sua única opção.

Neste mesmo molde também escuto o apelo: “temos que falar mais dos métodos anticoncepcionais para que o aborto não seja necessário!”

É fácil falar de métodos anticoncepcionais quando somos de uma classe cheia de informação. Acontece que as maiores vítimas de complicações em abortos clandestinos são justamente aquelas sem informação e sem acesso aos métodos contraceptivos.

1. Saiba mais neste vídeo completíssimo da Universidade Livre Feminista: http://vimeo.com/15358185

2. Quer saber informações históricas sobre a questão do Aborto? Leia: http://sindromedeestocolmo.com/archives/2010/09/o_aborto_na_his.html/

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O tempo passa e o padrão de beleza muda.

O historiador Paulo Roberto Vieira descobriu algumas propagandas em edições antigas do Jornal Diário dos Campos, de Ponta Grossa (PR) que evidenciam como o padrão de beleza mudou… Com a palavra, Paulo Roberto:

Durante uma pesquisa nos arquivos do jornal Diário dos Campos, em Ponta Grossa-PR, realizada no ano de 2007, tirei várias fotografias de propagandas veiculadas entre os anos de 1938 e 1940. Revendo aquelas fotos, me deparei com uma questão interessante. Na época em que as propagandas foram veiculadas, magreza era sintoma de doença. Vários reclames divulgavam que ser magro era sinal de fraqueza no sangue. Outros mostravam que a mulher magra passava vergonha. Mas a história, como a testemunha do tempo, tem a obrigação de nos mostrar as transformações que ocorrem na sociedade. Olhando as fotos anexas, você vai ver que o ideal de ser Barbie não era cogitado de modo algum, nas décadas de 1930-1940.

A luluzinha Beth Vieira, irmã do pesquisador, compartilhou na nossa lista de discussão o texto acima e as fotos que seguem (clique para ampliar):

(Os jornais encontram-se no Museu dos Campos Gerais, pertencente à Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná.)

Não quero dizer que as “magras de nascença” são doentes. O problema está em achar-se feia e sem valor por causa do que proclamam os meios de comunicação e fazer loucuras para perder peso, colocando a própria saúde em risco.

Nos anos 30, imagino que muitas magras saudáveis se sentissem pressionadas a engordar. Hoje, muitas curvilíneas saudáveis sentem-se pressionadas a perderem suas curvas, busto, quadril, coxas, em nome de um padrão de beleza imposto pela moda e pela publicidade.

O segredo é cuidar de si. Isso significa mandar as revistas de dietas e as neuroses com a balança às favas. Significa buscar o equilíbrio, comer direitinho, espantar o sedentarismo em nome de uma vida saudável e não de estilistas malucos que preferem vestir cabides a mulheres. Significa, sobretudo, amar-se, valorizar-se, olhar-se no espelho e encontrar pontos positivos em vez de sair catando defeitos inexistentes.

Sei que é mais fácil falar do que fazer, mas pense bem: você quer passar o resto da sua vida sofrendo para atingir um padrão físico que certamente mudará em algumas décadas, como já mudou tantas vezes antes (lembrem-se das pinturas renascentistas)? Vale a pena ser infeliz por isso?

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Solteira ou solteirona? Oras, vocês não têm nada melhor para fazer?

That Girl, de Jim Bob Blann, em CC
foto de Jim Bob Blann, em CC

Tudo começou em nosso grupo de discussão (mulheres são bem-vindas, basta entrar em contato), disparada por um texto muito do bom da Ruth de Aquino: Quando uma solteira vira solteirona?

As Luluzinhas riram, tiraram sarro, contaram suas histórias. E a Lanika, mulher inteligente que é, mandou muito bem no seu e-mail. Eu falei: publica no teu blog. Ela falou para publicar aqui. Então que seja.

Cara, eu tenho de rir dessas pressões da sociedade.

Quando você é adolescente, te perguntam se você já tem um “namoradinho”.

Quando você namora firme, quando vai casar.

Quando você fica noiva, pra quando é. E se marcar o casamento muito rápido, é porque está grávida. Se demorar para marcar é porque o homem está enrolando ou você não está fazendo algo direito para “fisgá-lo de uma vez”.

Aí você casa. Mal volta da lua de mel, te perguntam quando você vai ter filhos.

Quando você está grávida, te perguntam se você prefere menino ou menina, se já escolheu o nome… e é bom você ter uma opinião formada senão te olham como um alien.

Quando você tem um filho, perguntam se você não quer outro. Quando você responde não, perguntam por que. Essa me incomoda especialmente porque eu SEMPRE tenho de responder que eu não posso ter filhos sem tomar remédio para segurar, que eu já perdi dois bebês e consegui segurar um e tá muito bom. Porra, quem gosta de ser lembrada disso todo santo dia????

Aí você separa. Mesmo que o ex-marido tenha aprontado horrores, quem não sabe da história se pergunta o que você fez de errado para ele se separar de você (mesmo que tenha sido o contrário) e você é a coitadinha que voltou a ficar solteira.

Aí você está solteira, perguntam quando você vai arrumar um namorado.

Você arruma um namorado, perguntam quando vai casar de novo.

Casa de novo, perguntam por que não teve outro filho.

E se você optar por não fazer parte dessa roda viva maluca, dizem que você tem algum problema, é “excêntrica” etc. Mulher separada e solteira por muito tempo está “magoada com a vida depois do primeiro casamento”. Mulher que nunca se casou “tem algum trauma forte com casamento no passado” ou é “sapatão”.

Alguém aí já parou para reparar no machismo extremo de tudo isso aí em cima? Uma mulher só existe e é “respeitável” e “normal” se estiver acompanhada de uma muleta, ops, quer dizer, um caralho, ops, quer dizer, um homem.

[]’s

Lanika

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Luluzinhas indignadas com a magreza

Hoje é um dia especial. Tudo começou com uma notícia da Folha Online sobre a magreza das modelos nas semanas de moda. As Luluzinhas Gabi Bianco, Ana Paula Marques e Renata Correa não deixaram por menos: foram aos teclados e clamam por razão em meio à loucura. A história da distorção dos corpos atravessa a indústria da moda feminina desde sempre… Me veio, em meio à discussão, uma cena linda do filme Duquesa, em que a personagem diz ao marido: “Desenho meus vestidos porque é a única forma de expressão que tenho”. A história da Duquesa de Lankashire acontece em 1774, com corpetes, anquinhas e muito aperto…

Em 2010, ainda lutamos contra o estereótipo. E sofremos com os editoriais de moda e o bombardeio de imagens que não relutam em usar mulheres-palito para mostrar coleções. No Brasil, para mim, o mais grave é a falta de respeito a qualquer padronização de tamanho. O que é 40 ali é 38 pela ABNT – que, sim, fez uma norma técnica para tentar colocar ordem na gaiola das loucas, mas fala sozinha. E o fato de ser desconsiderado que a maior parte de nossa população é negra ou mulata. E o fato de que existem mulheres de todos os tamanhos, formas e cores. E a reincidente tentativa, principalmente na indústria da moda, de homogeneizar as pessoas.

Nenhum estilista da São Paulo Fecha o Vick (meu apelido especial para o ordálio da moda) pensa em diferença. Eles querem é ganhar dinheiro, criar glamour, enfeitar o mundo. Válido, lindo, tudo certo. Só que no altar da beleza os carneiros sacrificados são meninas. Ao ver as imagens dos esqueletos desfilando – esqueletos são belos, como tudo no humano o é – imaginei o impacto disso nas iniciantes e aspirantes. Ser modelo é uma profissão dura, exigente. E os selecionadores passam dos limites.

Imaginem que esta escriba tem 1,80m e pesa 64 kg depois de muita luta porque estava no limite da anorexia. Sim, eu precisei lutar para engordar e a salvação foram os carboidratos reforçados antes de dormir. Não, não tenham inveja. Comer é uma delícia, uma das melhores coisas na vida. Adoro boa comida, saladas, frutas, legumes, massas, as coisas boas que a Cozinha da Matilde nos oferece. Confesso que não como muita carne, mas é mais preferência pessoal do que qualquer outra crença. Fui educada assim.

Evitar a magreza extrema, promover a saúde e o bem-estar é o objetivo de estar no mundo, de ser bonito, de viver. A vida é dura, sim, e costuma piorar com o tempo. O que será destas moças magérrimas? Bloguemos, então. Falem o que acham do assunto. E pensem: como é que vocês vão construir suas auto-imagens? Olhando para estas modelos ou vendo a si mesmas? Eu vejo, no Luluzinha, mulheres que pensam, que se reúnem, que têm bom gosto e valor suficiente para evitar a vala comum do que é “tendência”. Mulheres que realmente fazem a diferença.

E fazer a diferença, neste caso, significa mandar estas marcas cheias de “valor” caçar sapo na lagoa e ir atrás das marcas que valorizam todos os tamanhos e cores de mulher. #prontofalei!

Aproveitem e assistam à ótima matéria que a TV Vírgula fez sobre o assunto.
Virgula.com

Update

Mais posts sobre o assunto:

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A midia social pelas Luluzinhas


Luluzinhas no #portocainarede, foto: Cardoso

Convoquei as Luluzinhas, lá no nosso grupo de discussão, para escrever um pouco sobre nosso fazer de todo dia. Às vésperas de um novo LuluzinhaCamp (ops, vários…) e uma blogagem coletiva que será convocada nos encontros, nada como a gente compartilhar um pouco o que pensamos a respeito deste assunto.

Aninha

As mídias sociais vieram para fazer a diferença. Vivemos em um mundo onde jornais, rádios e TV´s são administradas por grupos políticos. A censura velada é a principal marca desses meios de comunicação de massa porque nem tudo é publicado na íntegra e as mídias sociais encontraram como uma das suas funções mostrar os bastidores. Eis uma mídia alternativa.

Elas também apresentaram a interatividade em um mundo onde todo mundo pode falar com todo mundo. Nas mídias sociais há um campo aberto para tudo sem que seja cobrado um real por aquele espaço. É um meio tão novo, mas que ainda não atingiu seu auge, pois novas mídias sociais estão sempre aparecendo e renovando os conceitos de comunicação. A desvantagem ainda é o anonimato que permite alguns crimes.

Ana Cláudia Bessa